Art of Mirrors, Derek Jarman, 1973. |
Dos
primeiros curtas em super 8 ao testamento azulado, fica muito claro que o
cinema de Derek Jarman é uma questão de luz (basicamente, uma questão de Lumière),
uma reflexão sobre a intensidade devida à luz para a composição ou a diluição
completa da imagem figurativa. Toda imagem lhe surge como atravessada pelo
registro afetivo do tempo que a permitiu se guardar, num reflexo imediato ao da
pequena flor que o próprio cineasta aparece guardando dentro de um livro (ou
seja, da própria memória ou historicidade), no apoteótico The Last of England
(1988), filme máximo de uma vida. Revisitar a integridade de sua carreira (na
oportuna Mostra promovida pela Caixa Cultural - link) é também recobrar algum
grau mais aprofundado de crença na postura criativa, pois Jarman não explorava
a linguagem apenas para testar seus limites (não, ele não era Greenaway), mas
para descobrir até que ponto cabia nessa linguagem os traços mais íntimos de
sua identidade, de seus segredos, sua razão de ser. Por um cinema que pulse a
declarada obsessão de estar vivo, mesmo diante da morte, que não se esquive das
limitações de produção, mas delas extraia a força do inesquecível, por um
cinema que seja luz, por uma luz que seja tempo, eis a urgência de se voltar a Derek,
sempre.
Blue, Derek Jarman, 1993. |
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