O Close dos Ventos

O Gênio do Mal, Robert Mulligan, 1965.
Inventariando os rostos de seus atores, Mulligan se destaca pela rara síntese de, numa elaboração de close, apresentar todo o histórico psicológico de um personagem, sem precisar de qualquer frase ou recurso anexo. Do notável e contínuo exercício, apreende-se uma evocação do espírito, tão somente pela face que este possui, assim como pela maneira que ela encontra para preencher o espaço ocupado por todos, entre o pescoço e o céu.

As faces de O Gênio do Mal (Baby the Rain Must Fall), em Lee Remick e Steve McQueen, delineiam o mais perfeito contraponto que pode aliançar duas almas: ela, celestialmente transposta para a fusão de nuvens que recobre a janela do ônibus, na justa viagem que abre o filme com seu retorno aos sonhos e ao amor deixado no jovem músico; ele, que precisa girar a cabeça para lhe enxergarmos os traços, desde o início afundado na mais densa treva, na maldade e rebeldia que tenta esconder de todos e do próprio espelho. Rostos que se sobrepõem, também por uma fusão, que se conectam e concentram dimensões inconciliáveis, mas desesperadamente agarradas pelo amor.

É possível que se trate do ponto mais alto do diretor, e certamente, um dos que mais longe o cinema americano tenha conseguido nivelar um anseio humano às intempéries dos ventos e do mundo circundante. No reencontro e no desencontro deste casal, em cena que duplica a abertura e o encerramento do filme, vemos seus destinos serem acompanhados por árvores que balançam, sombras que não se cansam. Fica a impressão de que, por um instante, Mulligan alcançou um close da brisa que passa.  



Nenhum comentário:

Postar um comentário