tag:blogger.com,1999:blog-75123513161051343202024-03-19T14:18:31.685-07:00,nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.comBlogger30125tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-41242841850048077452020-05-13T07:06:00.003-07:002020-05-13T07:06:50.068-07:00Le Champignon des Carpathes (Jean-Claude Biette, 1990)<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoFZaLevSl_PmScucnbAiRnoWVq4jlXS837fV0_9bBOLpSn1AJgDnMuqlHLs0g4C3CnJ7bxSN3vSH3Ll3e7dYfK5MVSafbZ0z3mW_mVxDBikU7L_JYtp79T1wFX1XPpUirEmBM1mRlSNOp/s1600/10.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="968" data-original-width="700" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoFZaLevSl_PmScucnbAiRnoWVq4jlXS837fV0_9bBOLpSn1AJgDnMuqlHLs0g4C3CnJ7bxSN3vSH3Ll3e7dYfK5MVSafbZ0z3mW_mVxDBikU7L_JYtp79T1wFX1XPpUirEmBM1mRlSNOp/s320/10.jpg" width="231" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Que eu saiba, ou tenha notícia, nenhum filme de Jean-Claude
Biette passou até agora em Portugal. Não são de resto muitos, para um cineasta
que se estreou (na curta metragem) há mais de 30 anos, em 1961. Mas apenas em
1977, Biette conseguiu os meios para passar à longa metragem com “Le Théatre
des Matières”, que veremos 2ª feira. Depois, cinco anos de intervalo e “Loin de
Manhattan”. Uma participação no filme coletivo “L’Archipel des Amours” (1983) e
mais sete anos de intervalo até chegar este cogumelo dos Cárpatos. Depois dele,
há já uma quarta longa metragem (de que não se conseguiu cópia): “Chasse Gardée”,
estreada em 1991. Por agora, a proposta de um “Robinson Crusoe”, a rodar em
Portugal, co-produzido por Paulo Branco (já co-produtor de “Loin de Manhattan”).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Um realizador “à Bresson” ou “à Tati” que pensa longamente
os seus filmes e longamente os amadurece, com rodagens igualmente longas? Nesse
sentido, não. Apenas um realizador (e é o caso de tantos dos nomes mais válidos
do atual cinema francês) que não transige com os chamados “gostos do público”,
com o que Rivette chama “filmes cinzentos” e prossegue uma obra vincadamente
pessoal, longe dos padrões dominantes das “cinzentas” décadas em que filmou.
Por isso mesmo, os seus filmes não aguçaram o apetite a qualquer distribuidor português.
Biette, como tantos dos seus companheiros de aventura (Jacques Davila, Gérard
Frot-Courtaz, Jean-Claude Guiguet) permanece <i style="mso-bidi-font-style: normal;">à margem</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">na margem</i>. À
exceção de algumas “capelas” a sua obra não suscita qualquer culto. E no entanto
são estes cineastas os homens da “resistência” de que falava Daney, os homens
que continuam a procurar a “grandeza na pequenez”. Deles se continua a fiar a gloriosa
herança das gerações da “nova vaga” e dos idos dos anos 60. Se os “antepassados”
tiveram a sorte de viver tempos menos estúpidos (e graças ao <i style="mso-bidi-font-style: normal;">nome</i> que então fizeram puderam continuar
as carreiras nos ciclos de prestígio) a esta geração coube-lhe o ostracismo.
Por agora, são eles que fazem o papel de “ET” num “planeta” que deixou de os reconhecer
e em que deixaram de se reconhecer. Um dia virá – e graças a eles virá – em que
os filmes que fazem serão redescobertos e não teremos que corar tanto com tanta
abdicação e tanta traição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">“Le Champignon des Carpathes” é emblemático dessa <i style="mso-bidi-font-style: normal;">insularidade</i>. No <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Positif</i> chamam-lhe um filme <i style="mso-bidi-font-style: normal;">exangue</i>.
Quem será ainda capaz de ver o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sangue</i>
que circula nestas obras? Quem será ainda capaz de acreditar no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">champignon des Carpathes</i>, a flor que tem
todos os poderes, desde que a afastem da luz? Quem pode seguir ainda esta
viagem na obscuridade e no mistério? Quem é ainda capaz de sustentar o primado
das personagens sobre a “história” e de criar para nós criaturas tão
fascinantes como Laura Betti, Patachou ou a Ofélia entorpecida pelas radiações
nucleares, pedindo (ou exigindo) ao espectador que estabeleça os nexos entre
eles e não os deixando divagar na historiazinha da papinha feita, para entreter
e para esquecer? Pode dizer-se ou pensar-se tudo de “Le Champignon des
Carpathes”. Dificilmente se poderá negar que este é um filme que nos respeita e
nos respeita na medida em que exige de nós uma atenção muito diversa do que nos
pedem os traficantes de imagens, ou dos que se servem delas para ilustrar (aos
quadradinhos) uma história em que não põem nem uma gota de sangue nem uma gota
de leite.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7cPJJTv1v5ZSkj3UjGu_G77yMO3V3etUoO2nOYIhUdVzTyxzmm-FP3jV3jf9GpUx6LYs5FC84hooV_SUS9T2Pp6ADVAH_yoqdgqRXy0L0FMIyH_8_P7Tog4Wm9oS_uZw-Q82qS-3-0Wld/s1600/vlcsnap-2020-05-13-02h19m18s231+-+C%25C3%25B3pia.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="966" data-original-width="1600" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7cPJJTv1v5ZSkj3UjGu_G77yMO3V3etUoO2nOYIhUdVzTyxzmm-FP3jV3jf9GpUx6LYs5FC84hooV_SUS9T2Pp6ADVAH_yoqdgqRXy0L0FMIyH_8_P7Tog4Wm9oS_uZw-Q82qS-3-0Wld/s320/vlcsnap-2020-05-13-02h19m18s231+-+C%25C3%25B3pia.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Pense-se, por exemplo, na personagem de Madeleine. Mal a
vemos no início (esse início que nos faz pensar num filme de ficção científica)
quando junto às ondas e ao mar (que só voltarão no final) foi atingida pelas
radiações da explosão de uma central atômica. Depois, saberemos que era ela
quem devia interpretar o papel de Ofélia na encenação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Hamlet</i> dirigida por um encenador também crescentemente desadaptado
do mundo que o cerca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRQRANeiDaFVtzo-f6XJoKGirToSQlO5T99AGwwLpym8g8VkcCz6GnsUbMs-yWvI3VskDPRDFi4q5bxmScMXWgpZmKWo03v29zhG_IsRk9RZ5vbwVkyi860GnnNgATPX-cvET4G6bYGufC/s1600/vlcsnap-2020-05-13-02h12m31s242+-+C%25C3%25B3pia.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="966" data-original-width="1600" height="193" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRQRANeiDaFVtzo-f6XJoKGirToSQlO5T99AGwwLpym8g8VkcCz6GnsUbMs-yWvI3VskDPRDFi4q5bxmScMXWgpZmKWo03v29zhG_IsRk9RZ5vbwVkyi860GnnNgATPX-cvET4G6bYGufC/s320/vlcsnap-2020-05-13-02h12m31s242+-+C%25C3%25B3pia.png" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Não há, em torno dela, uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">intriga</i>, no sentido em que não nos perguntemos durante o filme se
ela vai se salvar ou não, se vai ou não voltar aos palcos. Mas vejam-se com
atenção esses belíssimos planos crepusculares dela, na casa de saúde. E sem que
nenhuma expressa indicação nos seja dada, é impossível não a associarmos
profundamente à própria essência do seu personagem. Madeleine é Ofélia, muito
mais Ofélia do que se lhe pusessem na boca os diálogos shakespearianos, do que
se a fizessem interpretar a cena da loucura ou do que se lhe descrevessem a
morte, nos salgueiros. A inocência perdida, a crueldade do destino, os jogos
cruzados abatendo-se sobre uma “menina e moça”, um amor dado e por dar, tudo
isso e o mais que se possa dizer sobre a Ofélia shakespeariana está nesses
planos de Madeleine, longe e perto dos cogumelos dos Cárpatos. E <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tudo isso</i> só o cinema o pode dar e o
pode dar assim. Cerra-se a luz em torno dela e cerra-se para nós a vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">É muito belo ver um filme em que as imagens <i style="mso-bidi-font-style: normal;">errem</i> desta maneira. Não são precisas
longas histórias para contar o que nunca se pode contar: o reencontro entre um
pai e uma filha, cada um deles vacilando nas certezas da sua identidade ou da
sua relação; a tentação de ir buscar algo de novo ao <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Hamlet</i> e o desespero de encontrar na sala a fazer de teatro sombras
dos próprios fantasmas; a incidência de uma catástrofe coletiva em pequenas
trajetórias pessoais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Cinéma, cinema, ça
rime avec quoi?”</i>, pergunta-se a certa altura. E de todas as imagens ficamos
com as duas únicas vezes em que a música aparece no filme: a marca fúnebre do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sonho de Uma Noite de Verão</i>, ouvida
durante o genérico inicial e a trompa do pastor de Tristão, ouvida no genérico
final. Ocultos apelos, como essas notas de música. E fica-nos sobretudo o
imenso espaço subterrâneo que atravessa este filme e o faz cada vez mais fugir
da luz e encerrar-se em segredos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">João Bénard da Costa (Setembro de 1992)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">[transcrito do Tomo I, 1º Vol. de seus <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Escritos Sobre Cinema</i>]</span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-54799913276802558202020-04-05T13:19:00.001-07:002020-04-05T13:28:16.327-07:00Carta Aberta à Márcia Barbieri<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;">Márcia,</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;"><br /></span>
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;">Iniciei a última semana certo de que lhe escreveria algo por
estes dias, pois já havia separado seus livros para serem a minha leitura da
vez. De imediato, comecei a recordar o meu primeiro encontro com sua escrita,
no ano passado, através dos empréstimos com as queridas Suyene e Simone, de seus
romances <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mosaico de Rancores</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Enterro do Lobo Branco</i>. Obviamente me
lembrei das reações que me causaram (especialmente o segundo, que pessoalmente
lhe narrei, quando nos vimos em SP, ali pelo mês de Outubro), mas agora prefiro
destacar as condições de leitura, que penso não lhe ter dito muito bem. Sabe,
eu amo guardar minhas memórias de leitura num pacotinho completo, às vezes
importando mais me lembrar como foi o processo de vivência com os livros do que
os desdobramentos de seus conteúdos (no que conta muito eu raramente me lembrar
dos desfechos em tudo o que leio, parece uma estratégia do inconsciente, para
perdurar as leituras <i style="mso-bidi-font-style: normal;">ad infinitum</i>).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;">Bem me lembro como foi abrir o primeiro livro seu que em
minhas mãos caiu, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mosaico de Rancores</i>,
justamente seu romance de estreia. Eu estava em uma clínica médica, à espera da
minha vez na consulta, típico momento em que leio volumosas quantidades de
páginas, seja pela demora a ser atendido, como pelo grau de concentração a que
consigo chegar, no esforço de não sofrer junto com alguns sofrimentos ao lado.
Lá estava com seu livro em mãos, quando começo a virar as páginas e percebo que
este ato mecânico, tão amado por leitores compulsivos, não estava se
completando em seu real significado. As páginas começaram a virar, sem
acompanhar com isso um real atravessamento das palavras, daquele sincopado de
frases que iam me desferindo delicados mas determinados golpes. Foi
praticamente em vão. Quando voltei para casa e retomei o livro, precisei
fechá-lo para tentar a efetiva abertura, ou melhor, precisei zerá-lo. Voltei
para a capa e, da primeira página, tentei novamente avançar. O mesmo processo
se repetiu mais duas ou três vezes: lidas algumas poucas páginas, eu retornava
para o início e começava de novo, como se procurasse a tonalidade certa em meus
olhos, para sentir que a estava realmente lendo. Não sei precisar em qual
tentativa eu finalmente me rendi, mas a hora chegou em que as páginas
continuaram a virar dentro de uma mecânica própria, que já parecia independer
da minha disposição pelo gesto. Disposição esta que se mediria logicamente pela
qualidade do meu raciocínio em cima de suas palavras, mas que, longe disso, na
verdade abdicava quase completamente de um entendimento padrão. Foi quando
descobri que virar uma página de Márcia Barbieri não significa ou prenuncia
qualquer expectativa de continuidade. Virar uma página sua é sempre voltar ao
zero, reduzir-se ao neutro, encostar numa espécie de condição ôntica que abre
mão de tudo, fazendo-me deparar com um cosmos em permanente estado de criação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;">Daí, para ler <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
Enterro do Lobo Branco,</i> foi um salto mais planejado. Imediatamente incluído
no rol de livros que só me atrevo a abrir em minha alcova (no que a listo em
uma tradição de autores, de Sade a Hilda, que sempre me pedem o silêncio mais
pleno), seja pelo isolamento como também pela escolha de dias que me permitam
um fôlego maior de tempo, neste segundo livro eu já havia vencido a insegurança
das páginas viradas. E em dois dias, já familiarizado com a desfamiliarização
de suas letras, concluí o que gerou em mim uma espécie de violação existencial,
experiência quase fisicamente dolorosa, aos moldes do que já vivi com os
autores mencionados no parêntese acima. O que me leva, um semestre depois,
nesta semana de isolamento global, a reencontrá-la nos romances que me
faltavam: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Puta</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Casa das Aranhas</i>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;">Se os primeiros textos seus aos quais tive acesso foram
suficientes para entender que jamais precisarei entendê-la, pois saborear a
imensidão de seu texto basta, agora eu sinto que cheguei mais perto de
localizar a sua obra no painel literário que construo. Lugar que acompanha,
inclusive, as estranhas sensações provadas durante estes dias de quarentena, no
Brasil e no mundo, por conta do Coronavírus. Como não encontrar profecia na
primeira página de seu último livro? <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Ninguém
ousava deixar suas casas, as ruas estavam escuras e desertas, os assassinos
enfurnados em seus cubículos, escutávamos apenas o escarcéu dos gatos nos
telhados (...), o latido incessante dos cachorros tentando nos alertar para um
perigo invisível e os guinchados dos ratos esfomeados no esgoto.”</i> (p. 15) Pois
é disso que trata toda a sua literatura, ou melhor, é aí que ela vive: em uma
zona posterior a tudo, ao mundo, aos homens, à própria palavra. A atmosfera
apocalíptica situada em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Puta</i>,
confirma o que pressenti antes com a necessidade de tudo zerar para poder ler: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Nossa antiga civilização entrou em declínio
e se extinguiu, tivemos que recomeçar do zero.” </i>(p. 42). Pelo que hoje
posso afirmar a qualquer pessoa que me perguntar sobre você e seus livros: sim, para ler a Márcia você precisa destruir o mundo, pelo
menos todas as compreensões e certezas que pensava ter, seja em relação ao
humano como na própria lida com o verbo. Abrir qualquer romance de Márcia é
recomeçar do zero.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;">E por isso eu decidi fazer destas minhas palavras, não
apenas uma resposta íntima, de um leitor para uma escritora, mas avançá-la, de
escritor para leitora, de escritor para escritora, de humanidade para
humanidade. Uma carta pública, para que mais olhos a saibam, que mais ouvidos a
sigam, que mais corpos a encontrem. Márcia, eu não conheço na literatura
brasileira de hoje outra voz que tenha alcançado tamanha liberdade nisso que
nos move a fazer livros. Localizar sua escrita redimensiona todos os meus
discursos, crenças e descrenças para com a contemporaneidade das letras. Você
me fortalece. Você eleva a produção literária no Brasil do séc. XXI a um
patamar como não se provava, pelo menos, desde a morte de Hilda. E como lhe sou
grato por isso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;">Hoje cedo escrevi algumas palavras sobre Clarice, a minha, a
nossa. Disse algo sobre absorvê-la como a um medicamento. O que me leva de
volta ao espaço onde meus olhos leram as suas primeiras frases. Cada um de seus
livros me faz voltar àquela espera médica, com a certeza de encontrar em você o
tratamento exato para os meus anseios. E uma curiosidade final: quando fui
guardar os seus livros de volta em minha estante, a ordem alfabética fez com
que <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Casa das Aranhas</i> caísse ao lado
de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Mágico de Oz </i>(Frank BAUM, logo
após BARBIERI, em minha prateleira). Fiquei olhando para os livros, lado a
lado, com um sorriso nos lábios. Seus romances me levam ao exato lugar em que
um dia, na infância, aquele mágico me levou. Um lugar onde encontro a mais plena
liberdade, o sabor da fantasia e dos desejos, a certeza de que são em obras assim onde
sempre continuarei motivando os meus dias, as minhas letras, quem eu sou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;">Obrigado,</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444; font-family: inherit; font-size: medium;">Nando</span></div>
<br />nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-32176489638642558952020-04-05T13:13:00.003-07:002020-04-05T13:17:54.116-07:00A Descoberta do Mundo (Clarice Lispector)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT2FAgZsZB8VstIFj20JTs0ja4fjY4ASKU9ASteR4a8NT840M6qpV25yCX750lVCpngDXFpkLXUzKUvTa7ubNuqDjQ-AbHXFBjm4WLT0m6gA_M7wLQYmjwtSNwbke6_1kiszif9JfeE9sj/s1600/descoberta.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="color: #444444;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="333" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT2FAgZsZB8VstIFj20JTs0ja4fjY4ASKU9ASteR4a8NT840M6qpV25yCX750lVCpngDXFpkLXUzKUvTa7ubNuqDjQ-AbHXFBjm4WLT0m6gA_M7wLQYmjwtSNwbke6_1kiszif9JfeE9sj/s320/descoberta.jpg" width="213" /></span></a><span style="color: #444444;">Há exatamente 9 meses eu abria a primeira capa deste livro. Mantive-o na estante por anos, sendo um daqueles que consultava de vez em quando, sem querer atravessá-lo por inteiro, para manter a sensação de que sempre haveria algo inédito para os meus olhos, em Clarice. Mas há 9 meses eu precisei quebrar o ritual de adiamento. Comecei a lê-lo no carro funerário, durante o trajeto que acompanhei para o translado do corpo de vovó, rumo a Pernambuco. Precisava me agarrar em algo, <span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;">para além de Deus, de minha dor e do buraco que levava no peito.</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444; font-family: inherit;">A hora: 3h30 da madrugada. A viagem: 7 horas de duração. Durante a viagem, as primeiras 24 horas completas do óbito, o primeiro dia do meu novo estado de vida. O princípio da descoberta de que em toda morte também se nasce. Lembro-me de que segui naquele carro, absorvendo palavras em goles densos, lentos, como quando experimentamos aquele sabor nunca anunciado, de maneira calculada para não engasgar, e ao mesmo tempo perceber bem fundo a dimensão do gosto.</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<span style="color: #444444;"><div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Se Bachelard é aquele que nos recorda ser a literatura uma homeopatia da angústia, entre minhas imagens favoritas e mais repetidas em aulas, hoje posso guardar “A Descoberta do Mundo” como a fórmula mais controlada, medida e exata para mim. Com o passar dos dias, continuei em todo o segundo semestre de 2019, lendo-o em gotas, uma ou duas páginas por lua, sem a pressa do fim. 2020 entrou, sem me trazer aquela determinação de encerrar as minhas leituras pregressas, sem a necessidade do marco zero. Como se a cada dia, a cada crônica, todo o meu ser zerasse naturalmente, e um novo calendário surgisse.</div>
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Nesta semana, finalmente, fecho sua contracapa. E ao me dar conta de que 9 meses foram completos nestas quase 500 páginas, o tempo de uma gestação, entendo que mais uma vez renasço. E em cada palavra que me medicou, que me tratou, reaprendi que o ineditismo dos olhos continua em todo amanhecer. Deus, a dor e o buraco também continuam em mim. Uma harmonia nova, em adaptação perpétua, para a qual as palavras sempre serão o ombro mais certo, o travesseiro mais quieto. Como sou grato por isso.</div>
</span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-7384844030652582792020-04-05T13:11:00.002-07:002020-04-05T13:17:42.632-07:00TOPs 2019<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">Considerando a quantidade absurda de leituras que fiz em 2019, a lista ficou pequena. Mas foram estes os melhores. Livros para um bom ano. Livros para a vida.</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. Enquanto Agonizo (William Faulkner)</span><br />
<span style="color: #444444;">2. Cristianismo Puro e Simples (C. S. Lewis)</span><br />
<span style="color: #444444;">3. A Descoberta do Mundo (Clarice Lispector)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. Os Anos + As Ondas (Virginia Woolf)<br />5. Cosmogonias (Otto Leopoldo Winck)<br />6. Nuvens de Algodão (Abbas Kiarostami)<br />7. A Confissão da Leoa (Mia Couto)<br />8. O Enterro do Lobo Branco (Márcia Barbieri)<br />9. A Vida Passada a Limpo (Carlos Drummond de Andrade)<br />10. A Audácia Dessa Mulher (Ana Maria Machado)<br />11. Autobiografia (José Luis Peixoto)<br />12. As Alegrias da Maternidade (Buchi Emecheta)<br />13. Sayonara, Gangsters (Genichiro Takahashi)<br />14. Entre As Mãos (Juliana Leite)<br />15. Ponciá Vicêncio (Conceição Evaristo)</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #444444; display: inline; font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">Mantendo a tradição de fim de ano, trago a lista com os filmes recentes que mais marcaram o meu olhar, durante 2019. Foi um ano bom. Que bom!</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #444444; display: inline; font-family: inherit;"></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. Ad Astra (James Gray, 2019)</span><br />
<span style="color: #444444;">2. 3 Faces (Jafar Panahi, 2018)</span><br />
<span style="color: #444444;">3. Vidro (M. Night Shyamalan, 2019)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. Gente do Lago (Jean-Marie Straub, 2018)<br />5. Dor e Glória (Pedro Almodóvar, 2019)<br />6. Varda por Agnès (Agnès Varda, 2019)<br />7. Vitalina Varela (Pedro Costa, 2019)<br />8. Amor Até as Cinzas (Jia Zhang-Ke, 2018)<br />9. Sedução da Carne (Júlio Bressane, 2018)<br />10. Dumbo (Tim Burton, 2019)<br />11. O Hotel às Margens do Rio (Hong Sang-Soo, 2018)<br />12. Um Dia de Chuva em Nova York (Woody Allen, 2019)<br />13. Sophia, Na Primeira Pessoa (Manuel Mozos, 2019)<br />14. Missão Impossível: Efeito Fallout (Christopher McQuarrie, 2018)</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #444444; display: inline; font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">E como sempre, encerro a partilha de listas com os melhores filmes que meus olhos tocaram em ineditismo durante o ano de 2019. Cabe destacar que o vencedor do primeiro lugar, talvez tenha sido a maior experiência que tive com o cinema em toda a década. Nunca é tarde. Sensibilidade avante!</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #444444; display: inline; font-family: inherit;"></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. Rosa de Areia (Margarida Cordeiro & António Reis, 1989)</span><br />
<span style="color: #444444;">2. Bérénice (Raoul Ruiz, 1983)</span><br />
<span style="color: #444444;">3. Othon (Jean-Marie Straub & Danièle Huillet, 1970)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. Sherlock Jr. + The Cameraman (Buster Keaton, 1924/28)<br />5. Cléo das 5 às 7 + Uma Canta, A Outra Não (Agnès Varda, 1962/77)<br />6. A Religiosa (Jacques Rivette, 1966)<br />7. A Paixão de Ana (Ingmar Bergman, 1969)<br />8. Eu Acuso! (Abel Gance, 1919)<br />9. Marie Pela Memória (Philippe Garrel, 1967)<br />10. Ele Está no Deserto Contando os Segundos de Sua Vida (Jonas Mekas, 1986)<br />11. O Pecado Original (Jean Cocteau, 1948)<br />12. Vida de Casado + Relâmpago + Irmão, Irmã (Mikio Naruse, 1951/52/53)<br />13. Domínio dos Bárbaros (John Ford, 1947)<br />14. Golpe de Misericórdia + Recrutas e Enxutas (Raoul Walsh, 1949/59)<br />15. Close-Up (Abbas Kiarostami, 1991)<br />16. A Eternidade e Um Dia (Theo Angelopoulos, 1998)<br />17. Filme de Amor (Júlio Bressane, 2003)<br />18. Lírio Partido (David W. Griffith, 1919)<br />19. O Sol do Marmelo (Victor Erice, 1992)<br />20. A Cidade Branca + Uma Chama no Meu Coração (Alain Tanner, 1983/87)<br />21. As Bodas de Satã (Terence Fisher, 1968)<br />22. O Talho do Bosque (Vittorio Cottafavi, 1963)<br />23. Van Gogh (Maurice Pialat, 1991)<br />24. Bonequinha de Luxo (Blake Edwards, 1961)<br />25. Em Seus Braços + Caracol (Naomi Kawase, 1992/94)<br />26. O Profissional (Luc Besson, 1994)<br />27. A Raiva (Pier Paolo Pasolini & Giovanni Guareschi, 1963)<br />28. O Fim do Mundo (João Mário Grilo, 1993)<br />29. Maus Encontros (Alexandre Astruc, 1955)<br />30. Mad Max (George Miller, 1979)</span></span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-45783663529802557532020-04-05T13:10:00.000-07:002020-04-05T13:17:29.184-07:00TOPs 2018<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">Dentre as leituras que primeiramente fiz no decorrer de 2018, recomendo pelo menos 20 títulos que favoritei, nesta ordem:</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. Livro Sobre Nada (Manoel de Barros)</span><br />
<span style="color: #444444;">2. Narciso e Goldmund (Hermann Hesse)</span><br />
<span style="color: #444444;">3. As Rãs (Aristófanes)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. Ainda (Pablo Neruda)<br />5. Outros Jeitos de Usar a Boca (Rupi Kaur)<br />6. Cartas (Mariana Alcoforado)<br />7. Os Dragões Não Conhecem o Paraíso (Caio Fernando Abreu)<br />8. Entre Quatro Paredes (Jean-Paul Sartre)<br />9. Sagarana (Guimarães Rosa)<br />10. O Coração Disparado (Adélia Prado)<br />11. O Jovem Törless (Robert Musil)<br />12. Pequena Crônica de Anna Magdalena Bach<br />13. A Vagabunda (Gabrielle Colette)<br />14. Sargento Getúlio (João Ubaldo Ribeiro)<br />15. Dias Felizes (Samuel Beckett)<br />16. Hotel Íris (Yoko Ogawa)<br />17. A Estepe (Anton Tchekov)<br />18. Confissões de Um Jovem Romancista (Umberto Eco)<br />19. Caçando Carneiros (Haruki Murakami)<br />20. A Última Madrugada (J. P. Cuenca)</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #444444; display: inline; font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;">Agora </span>seguem os melhores filmes contemporâneos que descobri durante o ano, valendo as produções dos últimos 3 anos.</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. Bela Adormecida (Adolfo Arrieta, 2016)</span><br />
<span style="color: #444444;">2. 24 Frames (Abbas Kiarostami, 2017)</span><br />
<span style="color: #444444;">3. Imagem e Palavra (Jean-Luc Godard, 2018)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. No Coração da Escuridão (Paul Schrader, 2017)<br />5. O Amante de Um Dia (Philippe Garrel, 2017)<br />6. Beduíno (Júlio Bressane, 2016)<br />7. À Espera dos Bárbaros (Eugène Green, 2017)<br />8. Que o Diabo nos Carregue (Jean-Claude Brisseau, 2018)<br />9. The Post – A Guerra Secreta (Steven Spielberg, 2017)<br />10. A Câmera de Claire (Hong Sang-Soo, 2017)<br />11. A Bela e Os Cães (Kaouther Bem Hania, 2017)<br />12. Roda Gigante (Woody Allen, 2017)</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;">* </span><span style="background-color: #f2f3f5; font-size: 13px;"><span style="font-family: inherit;">Foi um ano muito melhor de desbravar do que os dois anteriores, quando praticamente nada recente fazia sentido para mim. Depois de Arrieta, o cinema pós-2015 finalmente avançou. Como de costume, os 3 primeiros lugares se destacam imensamente em relação</span></span><span style="background-color: #f2f3f5; font-size: 13px;"><span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;"> ao resto da lista, poderia fechá-la só neles. Mas todos os outros também tiveram sua parcela de importância em meus olhos, pelo que mantenho a tradição das 10 posições para ampliar as sugestões aos que gostam de recolhê-las nos murais amigos. E que 2019 venha, avante!</span></span></span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="background-color: #f2f3f5; font-size: 13px;"><span style="font-family: inherit;"><span style="color: #444444; font-family: inherit;"><br /></span></span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">E finalmente, numa perspectiva mais ampla, a lista de melhores filmes tocados pela primeira vez durante o ano de 2018. Aos que me acompanham no MKO, não deve haver surpresa alguma. Que assim prossiga, cinefilia de partilha e amor. Sensibilidade avante!</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. Grandeza e Decadência de Um Pequeno Negócio de Cinema (Jean-Luc Godard, 1986)</span><br />
<span style="color: #444444;">2. O Testamento de Deus (Jacques Tourneur, 1950)</span><br />
<span style="color: #444444;">3. A Cor da Romã (Sergei Paradjanov, 1969)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. Le Navire Night (Marguerite Duras, 1979)<br />5. Reminiscências de Uma Viagem à Lituânia (Jonas Mekas, 1972)<br />6. Fortini / Cani (Straub & Huillet, 1976)<br />7. Daguerreótipos (Agnès Varda, 1976)<br />8. Réquiem Para Uma Mulher + Rosa La Rose (Paul Vecchiali, 1979 / 1986)<br />9. A Estratégia da Aranha (Bernardo Bertolucci, 1970)<br />10. O Sucesso é A Melhor Vingança + Mãos ao Alto! (Jerzy Skolimovski, 1984 / 1981)<br />11. Ukamau (Jorge Sanjinés, 1966)<br />12. Como Esposa, Como Mulher + Filha, Esposa, Mãe (Mikio Naruse, 1961 / 1960)<br />13. Miguel + Duas Pessoas (Carl Th. Dreyer, 1924 / 1945)<br />14. As Contrabandistas (Luc Moullet, 1968)<br />15. Aquele Dia na Praia (Edward Yang, 1983)<br />16. Fruto de Verão (Lewis Gilbert, 1961)<br />17. Nuit Noire, Calcutta (Marin Karmitz, 1964)<br />18. The Good Bad Man (Allan Dwan, 1916)<br />19. As Antiguidades de Roma (Jean-Claude Rousseau, 1991)<br />20. We Can’t Go Home Again (Nicholas Ray, 1973)<br />21. O Canto da Sereia (Noémia Delgado, 1983)<br />22. A Casa (Nobuhiko Obayashi, 1977)<br />23. Deaf (Frederick Wiseman, 1986)<br />24. O Fenômeno Nebuloso de Maloja (Arnold Fanck, 1924)<br />25. O Nascimento do Amor (Philippe Garrel, 1993)<br />26. Anno Uno + O Messias (Roberto Rossellini, 1974 / 1975)<br />27. A Família Moromete (Stere Gulea, 1987)<br />28. As Aventuras de Hajji Babba (Don Weis, 1954)<br />29. A Estação da Bruxa (George Romero, 1972)<br />30. As Máscaras (Ida Lupino, 1964)</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br /></span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-21920543924916108602018-02-09T20:20:00.003-08:002018-02-09T20:22:03.177-08:00Grandeza e Decadência de Um Pequeno Negócio de Cinema / Grandeur et Décadence d'Un Petit Commerce de Cinéma (Jean-Luc Godard, 1986)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhet59lAdzircCw5mfXe20KHTBIkOZ1OF2YQpEemgV2Wz87KaNjQzDfFcEFFlbm4Espz54xN-hbOkk2LQX4BzGsC1UDtcMrZtaG5-Ga4N21ZC3tqr2C-1ILw-urZgTHAgPp1YiJdH1bxySY/s1600/10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="900" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhet59lAdzircCw5mfXe20KHTBIkOZ1OF2YQpEemgV2Wz87KaNjQzDfFcEFFlbm4Espz54xN-hbOkk2LQX4BzGsC1UDtcMrZtaG5-Ga4N21ZC3tqr2C-1ILw-urZgTHAgPp1YiJdH1bxySY/s320/10.jpg" width="240" /></a></div>
<span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Uma das experiências em que a melancolia pulsa mais forte junto ao pensamento de Godard, como um nervo exposto, uma ferida jamais cicatrizada porque não lhe prestaram o devido tempo de exposição aos ventos, este telefilme se perpetua em tom menor na carreira de um artista que sempre concedeu, às pequenas obras, a justa posição da harmonia musical – cada semitom é importante para a formação de um acorde. Apesar de pouco visto e lembrado, </span><em class="bbc" style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif;">Grandeur et Décadence</em><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> não pode deixar de figurar como um dos fundamentos para se compreender a posição assumida com o audiovisual, por seu realizador, no correr dos anos 1980, recuperando o espírito e a inquietação presentes em diversos autores que se atreviam a transitar entre o cinema e a televisão. Muito mais do que os filmes imediatamente posteriores ao lançamento de </span><em class="bbc" style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif;">Passion</em><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, aqui está o maior elo entre o início daquela década e a futura ambição de </span><em class="bbc" style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif;">Histoire(s) du Cinéma</em><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, já revelada nestas sombras, nesta louca e obsessiva pesquisa de formas. </span></span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;">
</div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;">Aqui voltamos aos bastidores, ao lado das lentes que mais interessa Godard na feitura de um filme, ou no simples desejo de que ele seja feito. <em class="bbc">Mise en abyme</em> como pretexto, <em class="bbc">MacGuffin</em> hitchcockiano para o que realmente importa na exploração da linguagem, há no enredo todos os clichês e caricaturas que cercam uma produção. O conflito não é saber se o filme será, ou não, concluído, se o dinheiro bastará, ou se os melhores atores serão encontrados. Como é típico no diretor, todas estas crises se esvaziam em detrimento de uma angústia mais bem partilhada pela montagem do material recolhido para narrar a trama. São os <em class="bbc">fades </em>e fusões entre as imagens, assim como o esmagamento de elipses e <em class="bbc">raccords</em>; é o equilíbrio entre a música pop e a erudição de Bartok, tanto quanto a experimentação desdramatizada de vozes, aquilo que determina a atmosfera dominante, o tom de lamento que percorre todo o filme. Por sinal, é deste completo esvaziamento que brotarão as <em class="bbc">Histoire(s)</em>, prenunciadas na estilística aqui disposta.</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="color: #444444;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkrtXQ16kpwVHhwC-Y6uYcl13X1kdgSSaMSGBRZcOXasrw_QMzZQuF3IgxSofdak4xVqqrLklEp3Kb9g60j-v-c8EMmsv66nLUBe4y5ZNcX7jSRTAlb1taZTLduM0Pter75qxu30vK_kKC/s1600/11.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="574" data-original-width="738" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkrtXQ16kpwVHhwC-Y6uYcl13X1kdgSSaMSGBRZcOXasrw_QMzZQuF3IgxSofdak4xVqqrLklEp3Kb9g60j-v-c8EMmsv66nLUBe4y5ZNcX7jSRTAlb1taZTLduM0Pter75qxu30vK_kKC/s320/11.png" width="320" /></a></span></div>
<span style="color: #444444;">
</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;">Não deixa de ser um cortejo fúnebre cada uma das sequências em que vemos a longa fila de pessoas sendo testadas para o <em class="bbc">casting</em>. Numa sucessão deleuziana, em que se repetem monocordicamente as falas, os corpos e os ângulos, temos aí uma busca pelo que jamais se satisfará. Os closes que se sobrepõem, os traços de faces investigados em <em class="bbc">slow</em>, longe ficam das sublimes presenças de <em class="bbc">screentests </em>que unem Warhol e Garrel. Aqui, a rostidade é exposta para se anular, os desejos são estabelecidos para se frustrarem, como bem representa a personagem de Eurídice, aspirante a atriz que não convence nem o produtor, seu marido, e nem o diretor de que pode ser a resposta para suas buscas. Enquanto um afirma ser o rosto dela clássico demais, parecido inclusive com uma intérprete de Renoir, o outro teme que ela jogue fora a sua vida como fazem todos os que estão envolvidos com as filmagens. Ao que ela pergunta: “É verdade que os filmes matam a vida?” Já não é possível que o clássico simbolize algo além da morte, parece responder a dura resistência em se permitir que Eurídice atue ou, sequer, faça também um dos testes. É como se houvesse na câmera algo esperando para lhe roubar a alma.</span><br />
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;">
</div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;">Em meio às admoestações, o produtor demonstra alguma saudade pelo preto e branco das primeiras fotografias, sugerindo que talvez estas pudessem dar conta do rosto de Eurídice. Ele declara que o P&B documentou o amanhecer de uma linguagem, o que serve para confirmar parte da lógica que move as cores de <em class="bbc">Grandeur et Décadence</em>, inclusive pela iminente pasteurização do vídeo. Ao contrário do produtor, o filme dentro do filme – que talvez por esta oposição não se concretize – não encontra espaço para nostalgia, e se dele emana uma notável tristeza, trata-se não de um pesar pelo que se perdeu no tempo, mas pelo que não poderá se capturar do futuro. Já não é possível representar uma arte que não seja crepuscular, uma linguagem que não se abandone aos últimos gestos de expressão que lhe cabem, daí ser todo este filme um movimento em torno da Noite, um cotejo da madrugada e das horas que não se sustentam em um relógio. Autoconsciência da caixa preta (TV) em relação à sala escura (cinema), dois espaços de pura treva, caso não nasça a imagem. </span><br />
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;">
</div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;">Não por acaso, é no meio da noite a cena em que o diretor do filme não mais resiste ao peso das circunstâncias (de ser personagem de si mesmo, de ser mais uma peça no maquinário que tenta conduzir): num movimento quase teatral, ele estaca no meio de um cômodo e desaba os ombros, pende a cabeça, parecendo desligar-se como um autômato a que escapou toda energia. Da mesma forma, vemos desligarem algumas das questões que outrora ocuparam Godard, acentuando-se a sua nova compreensão de estética, o renovado anseio por saber tudo o que pode um filme. É outra a revolução que podemos esperar a partir daqui, mais amplo o combate, o esforço de lidar com artes que agonizam. Num filme que anoitece, a ironia é urgente: reacende-se a busca pela luz.</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;">***Texto originalmente publicado no <a href="http://culturabancodobrasil.com.br/portal/wp-content/uploads/2015/10/26OUT_GODARD_catalogo-1.pdf">Catálogo CCBB</a></span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-46420769535761815472018-02-09T20:17:00.003-08:002018-02-09T20:18:32.577-08:00On s'est Tous Défilé (Jean-Luc Godard, 1988)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSKSCrGW5vIkvgK1tUUdiqsWHdcuJutJPRDFRFQAY-YHqbGW3uZG3mKsHpv2T_Ftdx9n_AcmWEtOgfPwVwOX6G2EVsr0Uim_7gdvMTtDoo8GHSv1Paeq4sR16q_tDhtuBnmFbAg9TG-TM-/s1600/z992.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="806" data-original-width="565" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSKSCrGW5vIkvgK1tUUdiqsWHdcuJutJPRDFRFQAY-YHqbGW3uZG3mKsHpv2T_Ftdx9n_AcmWEtOgfPwVwOX6G2EVsr0Uim_7gdvMTtDoo8GHSv1Paeq4sR16q_tDhtuBnmFbAg9TG-TM-/s320/z992.jpg" width="224" /></a></div>
<span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Apostando na desconstrução de sentidos já no primeiro quadro deste ...</span><em class="bbc" style="background-color: white; font-family: verdana, arial, helvetica, sans-serif;">Défilé</em><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, Godard é rápido em instaurar e revirar do avesso toda a memória de um escritor que talvez seja a mais próxima identidade do cineasta no domínio literário. Se considerarmos o gênio de Mallarmé diante da página em branco, assim como seu deslumbramento pelas tecnologias tipográficas e a abertura criativa que não hierarquiza as palavras, mas lida com elas em pé de igualdade e extrema curiosidade, em constante estado de invenção, rapidamente perceberemos que Godard não deixa de atualizar para o vídeo diversas questões colocadas pelo simbolista no final do séc. XIX, em seu particular tratamento semântico da imagem e do som. A substituição operada na abertura do filme sobre o verso mais emblemático do poeta (troca-se o acaso que </span><em class="bbc" style="background-color: white; font-family: verdana, arial, helvetica, sans-serif;">jamais </em><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">será abalado por um lance de dados, por outro que </span><em class="bbc" style="background-color: white; font-family: verdana, arial, helvetica, sans-serif;">sempre </em><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">se abalará), logo ultrapassa o nível linguístico para ecoar em planos e enquadramentos originalmente publicitários, ou de finalidades quaisquer, que agora encarnam – ilustrar seria pouco – uma troca mais plena de corpos da linguagem. Movimentos se dilatando, refrãos melódicos se intercalando, oratória poética do próprio Godard minando a inusitada colagem de cenas e gestos que já não guardam referente alheio ao que simplesmente toca as imagens, oferta-se aqui um curta que não poderia estar mais bem encaixado na filmografia de seu autor, senão no pródigo ano de 1988, ponto de virada, recomeço ensaiado nos oito anos precedentes. É significativo voltar um século para localizar em Mallarmé alguém que já compunha suas </span><em class="bbc" style="background-color: white; font-family: verdana, arial, helvetica, sans-serif;">Histoire(s)</em><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">, seu eterno ‘livro por vir’ que Blanchot tão bem batizou ante a impossibilidade de finalização. Não há imagem que Godard finalize, não há tela que deixe de permanecer branca em suas mãos e olhar. Neste sentido, ...</span><em class="bbc" style="background-color: white; font-family: verdana, arial, helvetica, sans-serif;">Défilé </em><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">é o apagamento, a limpeza de página, o canto de anunciação que perpetua a espera do ‘filme por vir’.</span></span><br />
<span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="color: #444444;"><span style="background-color: white; font-family: "verdana" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">***Texto originalmente publicado no <a href="http://culturabancodobrasil.com.br/portal/wp-content/uploads/2015/10/26OUT_GODARD_catalogo-1.pdf">Catálogo CCBB</a></span></span>nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-73097994142192666112018-02-09T20:13:00.001-08:002018-02-09T20:13:20.939-08:00TOPs 2017<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">Mantendo o hábito do balanço anual, listo abaixo as melhores letras que visitei em 2017, ano que me marcou a fogo com poesia, com palavras de liberdade, de missão, de localização no universo. Que os livros prossigam.</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. Uma Temporada no Inferno (Arthur Rimbaud)<br />2. Elegias de Duíno (Rainer M. Rilke)<br />3. Sentimento do Mundo (Carlos Drummond de Andrade)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. Esperando Godot + Fim de Partida (Samuel Beckett)<br />5. O Amante da China do Norte + Emily L. (Marguerite Duras)<br />6. Rútilos (Hilda Hilst)<br />7. A Porta Estreita (André Gide)<br />8. Rastros do Verão + A Céu Aberto (João Gilberto Noll)<br />9. A Náusea (Jean-Paul Sartre)<br />10. O Amor Acaba (Paulo Mendes Campos)<br />11. Solte os Cachorros (Adélia Prado)<br />12. Estação das Chuvas (José Eduardo Agualusa)<br />13. Cartas Perto do Coração (Fernando Sabino & Clarice Lispector)<br />14. Para Ser Caluniado (Paul Verlaine)<br />15. Romancista Como Vocação (Haruki Murakami)</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><span style="color: #444444;"><br /></span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">E meu 2017, em filmes:</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. Sócrates [Roberto Rossellini, 1971]<br />2. No Quarto da Vanda [Pedro Costa, 2000]<br />3. Infelizmente Para Mim [Jean-Luc Godard, 1993]<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. O Homem Atlântico [Marguerite Duras, 1981]<br />5. Cézanne [Straub & Huillet, 1990]<br />6. Jeanne Dielman [Chantal Akerman, 1975]<br />7. A Ponte (1928) + O Sena Encontrou Paris (1957) [Joris Ivens]<br />8. Fantasma [Friedrich W. Murnau, 1922]<br />9. O Sucesso é A Melhor Vingança [Jerzy Skolimovski, 1984]<br />10. História de Taipei (Edward Yang, 1985]<br />11. Mallarmé [Eric Rohmer, 1968]<br />12. Jean Cocteau Fala Para os Anos 2000 [Jean Cocteau, 1962]<br />13. Do Alto das Escadas [Paul Vecchiali, 1983]<br />14. Paixão dos Fortes [John Ford, 1946]<br />15. Dias de Ira [Carl Th. Dreyer, 1943]<br />16. Fando e Lis (1968) + Santa Sangre (1989) + Poesia Sem Fim (2016) [Alejandro Jodorowski]<br />17. O Verão (1968) + O Inverno (1969) [Marcel Hanoun]<br />18. O Império da Paixão [Nagisa Oshima, 1978]<br />19. A Mãe [Vsevolod Pudovkin, 1926]<br />20. O Massacre da Serra Elétrica [Tobe Hooper, 1974]<br />21. A Estalagem Vermelha [Jean Epstein, 1923]<br />22. O Silêncio do Mar (1949) + Les Enfants Terribles (1950) [Jean-Pierre Melville]<br />23. Cinderela em Paris [Stanley Donen, 1957]<br />24. Fúria no Sangue [Barry Shear & Samuel Fuller, 1973]<br />25. A Mulher do Lado [François Truffaut, 1981]<br />26. Houve Uma Vez Um Verão [Robert Mulligan, 1971]<br />27. As Pequenas Margaridas [Vera Chytilová, 1966]<br />28. Adieu Philippine [Jacques Rozier, 1962]<br />29. Martin [George A. Romero, 1977]<br />30. A Princesinha das Rosas [Noémia Delgado, 1981]</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"></span></span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">Menção honrosa: Mulher-Maravilha [Patty Jenkins, 2017]<br />Nota explicativa: como não vejo mais sentido em montar uma lista somente com filmes contemporâneos (pelo menos desde 'Adeus à Linguagem'... no ano passado fiz apenas por formalidade), resolvi mencionar aquela que foi minha maior diversão numa sala de cinema comercial.</span></div>
</div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-33154934438837105332018-02-09T20:10:00.001-08:002018-02-09T20:10:33.744-08:00Do Alta das Escadas / En Haut Des Marches (Paul Vecchiali, 1983)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVSouU88FhFL94W2pcWYJyzxkeRCK3Oviou4A8yVZDKRM4ikysUFySl7a2hIkL4AGJGeMWACc1L6P-XA_1z38EQ0a_rpEwV1GXa7MjqiMsWCNHPSFH4-AlJpYXckMOK8GRN2ORX8uBfpuN/s1600/z991.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="384" data-original-width="624" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVSouU88FhFL94W2pcWYJyzxkeRCK3Oviou4A8yVZDKRM4ikysUFySl7a2hIkL4AGJGeMWACc1L6P-XA_1z38EQ0a_rpEwV1GXa7MjqiMsWCNHPSFH4-AlJpYXckMOK8GRN2ORX8uBfpuN/s320/z991.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<strong class="bbc"><span style="color: #444444;">O Tempo de Julgar, O Tempo de Punir</span></strong></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<strong class="bbc"><em class="bbc"><span style="color: #444444;">Por Ariane Beauvillard</span></em></strong></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<strong class="bbc"><em class="bbc"><span style="color: #444444;">***traduzido da <a href="https://www.critikat.com/actualite-cine/critique/en-haut-des-marches/">Revista Critikat</a></span></em></strong></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;"> </span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<strong class="bbc"><span style="color: #444444;">A Estranheza e A Familiaridade</span></strong></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;"><em class="bbc">En haut des marches</em> é provavelmente um dos filmes mais pessoais de seu autor, Paul Vecchiali, ainda um mestre do cinema intimista: nascido em Toulon, fugido da região após as suspeitas – infundadas – da família, de colaboracionismo, dedicou na abertura do filme o combate de Françoise à sua própria mãe. A Françoise de<em class="bbc"> En haut des marches</em> é uma nova variação da mulher vecchialiense, quase uma fêmea síntese na lógica das figuras mulheres incandescentes de <em class="bbc">Femmes Femmes</em> ou <em class="bbc">Corps à Coeur</em>, para citar apenas os mais famosos representantes. A paixão, em Vecchiali, era geralmente o motor de uma unidade física ou a contradição de um estado de fato social. Ela é aqui mais política, embora o diretor não seja nem um ideólogo nem um moralista. Esta paixão multiforme cresce em diferentes momentos da narrativa, e em espaços que, embora reunidos na cidade de Toulon, tomam a sombra das emoções e memórias de Françoise.</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;"> </span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;">Um pouco mais de trinta anos após o lançamento de <em class="bbc">En haut des marches</em>, e se há algo singular no jogo de sombras, filtros e cores pastel orquestradas por Vecchiali, é a força das discretas inflexões que dão o drama em toda sua extensão. Estrangeira, Françoise tenta em vão recuperar estradas, praias, amigos que povoaram sua antiga vida. Ela se lembra, e se revela. Ela quer se deslocar por um caminho costeiro árido, cair assim como Charles caiu. Os tempos se confundem entre a morte e a paixão, ou a transformação desta última na violência silenciada que será agente da vingança. No entanto, e este é, sem dúvida, um dos grandes feitos do filme, Vecchiali consegue essa confusão temporal para mostrar suas variantes emocionais: o arquivo (principalmente o discurso de Pétain) representa a narrativa racional do desejo, um fundo histórico neutro comum a todas as memórias; o <em class="bbc">flashback</em>, por sua vez, mostra a emoção temporal, a tentativa de recuperar o tempo perdido, de reemergir e, portanto, reviver; a cena cantada – homenagem a Demy, de quem Vecchiali era amigo – finalmente tenta sair da linha do tempo... e os desejos irão se fundir em um único: o da justiça individual, o da necessidade de Françoise encontrar finalmente a relativa tranquilidade do presente, para conciliar os estratos temporais.</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;"> </span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<strong class="bbc"><span style="color: #444444;">As Memórias Que se Silenciam</span></strong></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;">A violência, como a doçura, está em toda parte neste teatro de contradições. Assim como Toulon margeia Pernod e se estabelece à sombra de plátanos, a cidade também é um relato discreto de uma guerra finda na Argélia – estamos em 1963 –, mas ainda presente no fundo das paredes das mentes das pessoas. Françoise, generosa professora de idade que se tornou uma pintora silenciosa, é a imagem de um país que oscila entre a destruição do sofrimento e a necessidade de reparos. Apesar de uma profissão artística, a sua expressão é reduzida pela ausência de ações necessárias. Uma vez que sua vingança é levada a termo, ela terá voz e perpetuará a sua própria memória da guerra. <em class="bbc">"Não é suficiente escolher um lado, também temos de escolher seus atos"</em>, nos é dito na epígrafe do filme. E é precisamente porque os seus atos e os de seu marido – oficial Petainense do Estado francês que ajudou sua família resistente – não foram tidos em conta, que Françoise escolhe o ato mais grave para forçar o caminho de um reconhecimento.</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;"> </span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<span style="color: #444444;">Nem moral, nem moralismo, nem uma mensagem universal se encontram aqui, mas uma situação de emergência, uma dor opressiva, uma forma de dignidade sensível notavelmente interpretada pela rainha Danielle Darrieux, cuja expressividade e finesse continuam a forçar admiração. Sem mencionar a coragem cinematográfica, por mais que alguns diretores tenham evocado o tema em 1983, quanto à questão do tratamento de forma tão humana. Se o mito de uma França totalmente resistente ao tempo fora rachado (pensamos no escândalo de <em class="bbc">Chagrin et la Pitié</em>, lançado em 1971), o de uma liberação sem mácula ainda estava muito vivo, considerando-se que finalmente uma mulher despojada ou um homem assassinado em abril de 1945, provavelmente, tiveram que procurar e morrer no altar da unidade nacional. <em class="bbc">En Haut des Marches</em> destruiu a ideia de justiça liderada por ex-combatentes da resistência e heróis da décima primeira hora. Mas a heroína de Vecchiali não é nem um conceito nem um valor: é uma mulher que, apesar de sua violência (através de um presente?), sabe como permanecer humana.</span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-11333893585230473982017-01-28T08:33:00.000-08:002017-03-26T08:34:40.716-07:00The Leather Boys (Sidney J. Furie, 1964)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeJv6skXs7hJlELfw2XbRXlBlcFyZpBfaZDm4JLV4QVSsFnUZgzdYNTieJGTQ6vJCgY3kQiqab1-niyBOtJG_EI6U1pdnUnlzJBY2ymaYbdvoxLFVpb5p0e-vDmsfP4XitEokvasn6NAhC/s1600/z9.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="139" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeJv6skXs7hJlELfw2XbRXlBlcFyZpBfaZDm4JLV4QVSsFnUZgzdYNTieJGTQ6vJCgY3kQiqab1-niyBOtJG_EI6U1pdnUnlzJBY2ymaYbdvoxLFVpb5p0e-vDmsfP4XitEokvasn6NAhC/s320/z9.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Apesar da reconsideração que felizmente se vem marcando com
a passagem do tempo, penso sinceramente que não tenha sido feito, pelo menos,
entre os críticos espanhóis, um estudo que valorize a importância como um todo
e, ao mesmo tempo, as semelhanças que geraram este conjunto de filmes surgidos
no âmbito do chamado </span><i style="color: #444444;">free cinema</i><span style="color: #444444;">
inglês. Mas além de aí se implicar o florescimento de dois diretores, a meu
ver, de nível elevado como foram Karel Reisz e Tony Richardson, uma geração de
grandes artistas – alguns dos quais continuam exercendo prestígio ilibado,
penso mesmo que sobre esta nova corrente cinematográfica da Inglaterra –
descendeu dos "novos cinemas" europeus, descendência esta que é especialmente
literária. Sem querer lograr mérito aos autores por muitos de seus títulos mais
prestigiados, creio ser evidente que dramaturgos como Allan Sillitoe, John
Braine, John Osborne, Shelagh Delaney e outros, ajudaram a estabelecer um novo
marco em que predominaram os exteriores lúgubres e industriais do país – algo que
de outra forma já estava presente em épocas anteriores do cinema britânico –
personagens cinzentos, alienados e frustrados, um enorme poder descritivo e,
basicamente, o uso de fontes que devem ser consideradas como de grandes
virtudes do cinema britânico em sua história: a existência deste
"realismo" que sempre acompanhou – de forma mais ou menos rigorosa,
mais ou menos apoiada no humor ou em outros gêneros – o futuro da tradição
fílmica de um país que sempre teve uma enorme fraqueza – e alegro-me ao ver todos
os dias que há mais fãs mostrando esta admiração, quando anos atrás parecia que
não era "bem visto" falar bem do cinema inglês.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Dito isso, insisto no fato de que ainda há muitos títulos
imersos nesta corrente – e talvez no cinema britânico dos anos 60 em geral –
que apenas são conhecidos... e o pior que pode acontecer a um filme que atesta
qualidades: não são vistos, de fato. Nunca me cansarei de apelar para a
necessidade de redescoberta a uma das obras que é ápice do <i>free cinema</i> – curiosamente realizada por seu intérprete mais
carismático e, anos depois, quando a corrente já se encontrava abandonada.
Refiro-me a <i>Charlie Bubbles</i> (1968,
Albert Finney). Mas, ao mesmo tempo em que este exemplo concreto – que considero
quase insultante – oferece-nos a chance de desfrutar de títulos apenas
conhecidos em nossa área, e que embora possam parecer imitativos de obras mais
importantes do movimento, não é menos verdade que, uma vez contemplados, revelem
qualidades consideráveis que os fazem dignos de serem situados à altura de
vários dos seus expoentes mais populares e consensuais.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Este é, a meu ver, o caso com <i>The Leather Boys</i> (1963, Sidney J. Furie) – nunca lançado na
Espanha, embora exibido na televisão com o título literal <i>Os Rapazes de Couro</i>. É, sem dúvida, um pequeno filme que bebe
consideravelmente – mais adiante voltaremos a este aspecto – de outros títulos com
significado especial naqueles anos intensos do cinema inglês; mas é certo que,
com voz calma, este filme na trajetória inicial do canadense Sidney J. Furie –
pouco antes de seu enorme sucesso com <i>Ipcress</i>
(1965) e superando um declínio constante e progressivo que chega aos nossos
dias – consegue oferecer uma história sincera, baseada em uma novela do próprio
roteirista do filme – Gillian Freeman –, que destaca claramente a introdução de
uma estranha relação entre os três personagens principais, onde se incorporam
claras notas homossexuais em prolongamento ao mundo dos "motociclistas"
que agrupavam gangues juvenis naqueles anos. E é neste aspecto particular que
devemos destacar a enorme diferença oferecida por este filme, em suas propostas
mitificadas – precedidas significativamente pelo medíocre <i>Salvage!</i> (1954, Laszlo Benedek).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Mas, além disso, <i>The
Leather Boys </i>destaca uma cuidadosa descrição de personagens, centrada no
trio que protagoniza suas imagens. Estes são especialmente Reggie (Colin
Campbell), um mecânico jovem e atraente caracterizado pela imaturidade e
honestidade, que compartilha seu tempo livre na companhia de outros
motociclistas. Reggie é noivo de Dot (Rita Tushigham), com quem logo se casa, estando
ambos com muito pouca idade. Ela é uma mulher bastante ociosa e excêntrica, que
rapidamente percebe seu despreparo para enfrentar uma relação selada como um
casamento. É neste processo, no qual as discussões e confrontos, entre os dois
cônjuges jovens, tornam-se algo prematuramente habitual, em que a figura de
Pete (Dudley Sutton) aparece. Pete é um estranho jovem caracterizado pela sensibilidade
diferenciada e capacidade de reflexão, que logo irá estreitar suas relações com
o desorientado Reggie, para formar uma amizade profunda. Ambos chegam mesmo a
viver e dormir juntos, na casa da avó do jovem marido, quando ela fica viúva; e
para Dot, a presença de Pete sempre será um impedimento para o retorno de seu
marido. O amigo é uma enorme influência sobre Reggie e começa a persuadi-lo a intensificar
na prática do amor pelas motocicletas, participando de novas corridas,
encorajando-o a usar um uniforme completo de couro e abertamente aconselhando-o
contrariamente a retornar com sua esposa. Obviamente, esse comportamento é
devido tanto a uma atitude sincera da psicologia de Pete – evidentemente um
homem experiente – e o desejo homossexual secreto que ele mantém por Reggie e
que o jovem apenas muito depois começa a intuir.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">É nesta circunstância que se encontra um dos maiores acertos
em <i>The Leather Boys</i>, simplesmente
saber, em todos os momentos, manter a ambiguidade de seus personagens principais.
É esta dualidade que nos permite conhecer todos os seus pontos fortes e fracos,
e nos permite simpatizar com Dot, apesar de em muitos momentos ela ser uma
jovem caracterizada como ordinária – como quando ela tinge o cabelo com um
estridente loiro – já que no último terço do filme a vemos em seu carinho que
sente por Reggie. De seu lado, no marido podemos encontrar traços machistas –
como quando ele exige que Dot o sirva como uma boa esposa, de maneira
reacionária – mas a verdade é que em sua própria imaturidade se adivinha uma
honestidade que, mesmo inconscientemente, leva-o a ser admirado por esse novo
amigo que o rodeia em todos os momentos. Finalmente, essa ambiguidade tem outra
figura importante no personagem de Pete, que tenta por todos os meios deixar em
segundo plano a sua homossexualidade latente para manter uma amizade em que ele
acredita, e por estar convencido de que ajudará o jovem desorientado com que
vive e compartilha a vida cotidiana.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxWMIsLpWyBANfn2l-EqLFvPbgv7HoIierz7IWMkV5ZBQi4HhF_uBQZ2hYipmBJrmz-1ZwS-fL9AhbhcPMlrVKjcnJcPaT0N7SM8j8t99n1SKim1ZBG4uDFHUw-IzY0HvgeXyvtXFFa-In/s1600/z91.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="139" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxWMIsLpWyBANfn2l-EqLFvPbgv7HoIierz7IWMkV5ZBQi4HhF_uBQZ2hYipmBJrmz-1ZwS-fL9AhbhcPMlrVKjcnJcPaT0N7SM8j8t99n1SKim1ZBG4uDFHUw-IzY0HvgeXyvtXFFa-In/s320/z91.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p><span style="color: #444444;"> </span></o:p><span style="color: #444444;">Nem é preciso dizer que esta ambiguidade pode, em anos, ser
o interesse mais superficial do filme, no tratamento da homossexualidade latente
da relação entre Pete e Reggie, mas creio que o filme é caracterizado por uma
descrição dos três personagens principais, em seus pontos fortes e fracos, que
se juntam para conseguir uma credibilidade íntima a todos eles, embora os
momentos finais do filme – realmente magníficos – resultem inegavelmente decepcionantes
e frustrantes para todos os envolvidos. A câmera de Furie se mostra realmente
inspirada no filme, baseando a sua narrativa em uma excelente utilização do
formato </span><i style="color: #444444;">widescreen</i><span style="color: #444444;"> que se estende até
o planejamento de planos de longa distância, com ligeiros movimentos de câmera focados
na evolução dos atores dentro do quadro – a este respeito é reveladora a
sequência em que dormem na mesma cama, Pete e Reggie. Surpreendentemente vindo
da mão de quem logo exibiria o rebuscamento formal no mencionado </span><i style="color: #444444;">Ipcress, The Leather Boys </i><span style="color: #444444;">destaca-se por
uma realização lenta, caracterizada pela utilização de sequências em que uma
câmera discreta deixa todos os
personagens viverem dentro do quadro, transmitindo as suas preocupações para nós
e o sentido progressivo de frustração que emana de suas vidas, frustradas em
todos os níveis. Para isso, deve-se enfatizar, como era comum no cinema
britânico da época, a magnífica fotografia de Gerald Gibbs e a melodia musical
brilhante que oferece Bill McGuffie, tendo como peça central um tema
melancólico que será repetido quatro vezes no filme, em cenas separadas, que
terá um papel especial de despertar o sentimento de nostalgia por um amor
perdido.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Será precisamente no plano final – maravilhoso – em que o
tema musical terá um papel maior, envolvendo a despedida emocionante de Reggie,
frustrado em todos os seus sonhos, por ver como sua mulher é infiel quando ele
decide voltar a viver com ela, assim como descobrir que esse amigo, a quem
admira, também vive em uma condição de homossexualidade a qual ele não
compartilha. Este longo plano é re-significado no afastamento que a triste
ponte londrina causa entre os amigos, certamente um toque final brilhante para
um filme que apenas se excede em alguns momentos de competição entre as motocicletas,
especialmente em Edimburgo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #444444;">Antes observava as influências que <i>The Leather Boys</i> mantém para com outros títulos britânicos famosos
da época. Sem muita ousadia, cabe notar <i>A
Taste of Honey</i> (1962, Tony Richardson), <i>The
Servant</i> (1963, Joseph Losey), <i>Billy
Liar</i> (1962, John Schlesinger) e alguns outros. Apesar dessa influência –
pois ninguém se opõe quando um filme de cinema <i>noir </i>se parece com outro sucesso precedente – encontramos um filme
brilhante, emotivo e de momentos magníficos em que é impossível parar de destacar
o trabalho de um elenco que não parece interpretar, pois com atores que parecem
ser eles mesmos seus próprios personagens. E, entre eles, eu gostaria de
destacar o trabalho do jovem e inseguro Reggie, desempenhado por Colin Campbell
que, surpreendentemente, não continuou no cinema inglês de seu tempo. Seu trabalho
é realmente uma maravilha de espontaneidade e sensibilidade, dentro de um filme
que merece realmente sair de seu imerecido anonimato.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<b><span style="color: #444444;">Juan Carlos Vizcaino<o:p></o:p></span></b></div>
<div style="background-color: white; font-family: Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; margin: 0px; padding: 0px;">
<span class="bbc"><span style="color: #444444;">*** traduzido do <a href="http://thecinema.blogia.com/2005/122601-the-leather-boys-1963-sidney-j.-furie-los-chicos-de-cuero-.php">blog do autor</a></span></span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-13894831738439689162016-12-31T08:17:00.000-08:002017-03-26T08:18:33.298-07:00TOPs 2016<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">Num ano de boas leituras, as letras que mais me marcaram em 2016:</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. Ficções + O Aleph (Jorge Luís Borges)</span><br />
<span style="color: #444444;">2. Ascese (Nikos Kazantzákis)</span><br />
<span style="color: #444444;">3. Medeia + As Bacantes (Eurípides)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. 1984 (George Orwell)<br />5. Como Escrever Um Romance (Miguel de Unamuno)<br />6. Contos Completos (Virginia Woolf)<br />7. Breve Romance de Sonho (Arthur Schnitzler)<br />8. Os Crimes do Amor (Marquês de Sade)<br />9. A Hora dos Ruminantes + Sombras de Reis Barbudos (José J. Veiga)<br />10. Aurélia + Pandora + Sílvia (Gérard de Nerval)<br />11. O Eterno Marido (Fiódor Dostoiévski)<br />12. Corpo Nulo (Sara Síntique)<br />13. O Caminho de Los Angeles (John Fante)<br />14. Conversas com Kubrick (Michel Ciment)<br />15. Sobrevivência dos Vaga-Lumes (Georges Didi-Huberman)</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #444444; display: inline; font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">Os melhores filmes recentes que tive a oportunidade de alcançar:</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #444444; display: inline; font-family: inherit;"></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. No Home Movie (Chantal Akerman, 2015)</span><br />
<span style="color: #444444;">2. Cavalo Dinheiro (Pedro Costa, 2014)</span><br />
<span style="color: #444444;">3. Three Landscapes (Peter B. Hutton, 2013)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. O Aquário e A Nação (Jean-Marie Straub, 2015)<br />5. O Filho de José (Eugène Green, 2016)<br />6. Cosmos (Andrzej Zulawski, 2015)<br />7. A Glória de Fazer Cinema em Portugal (Manuel Mozos, 2015) + O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu (João Botelho, 2016)<br />8. Nossa Irmã Mais Nova (Hirokazu Koreeda, 2015)<br />9. Carol (Todd Haynes, 2015)<br />10. À Sombra de Uma Mulher (Philippe Garrel, 2015)<br />11. O Ornitólogo (João Pedro Rodrigues, 2016)<br />12. Sabor da Vida (Naomi Kawase, 2015)<br />13. Sully (Clint Eastwood, 2016)<br />14. Certo Agora, Errado Antes (Hong Sang-Soo, 2015)<br />15. Sangue do Meu Sangue (Marco Bellocchio, 2015)</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;"><span style="background-color: #f6f7f9; font-size: 12px;"><span style="font-family: inherit;">(Não por acaso, os três primeiros lugares da lista retrocedem aos últimos anos para registrar o que vi de melhor. Se eu optasse pelo extremo rigor, fecharia a lista apenas nos três. Nenhum dos poucos filmes de 2016 que entrou é exatamente memorável na o</span></span><span style="background-color: #f6f7f9; font-size: 12px;"><span style="font-family: inherit;"><span style="font-family: inherit;">bra de seus realizadores, sinalizando que se trata de um ano não apenas à beira do irrelevante, no cinema do presente século, mas que quase cai na completa nulidade. Quero acreditar que apenas ainda não tenham se tornado acessíveis os melhores filmes do ano, e que 2017 me traga gratas surpresas, por mais que os títulos realmente aguardados por mim caibam nos dedos de uma mão. Mas tenho acreditado tanto na esperança de 2017 que talvez isso só quebre ainda mais a minha cara...)</span></span></span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="background-color: #f6f7f9; font-size: 12px;"><span style="font-family: inherit;"><span style="color: #444444; font-family: inherit;"><br /></span></span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">Finalmente, as melhores coisas que descobri na história do cinema em 2016. A ordem poderia mudar a partir do número quinze e outros poderiam ser acrescidos, mas acho que está uma boa amostragem para não dizer que me foi um ano imprestável. Seguir daqui olhando sempre para o horizonte, lembrando que ele continua para além do que os meus olhos podem ver...</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #444444;">1. Discurso de Um Proprietário [Yasujiro Ozu, 1947]</span><br />
<span style="color: #444444;">2. Seis e Meio X Onze [Jean Epstein, 1927]</span><br />
<span style="color: #444444;">3. Benilde, Ou A Virgem Mãe <span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;">[Manoel de Oliveira, 1975]<br />4. Dragões da Violência (1957) + A Lei dos Marginais (1961) + O Beijo Amargo (1964) + Renegando o Meu Sangue (1957) + Mortos que Caminham (1962) [Samuel Fuller]<br />5. História Imortal [Orson Welles, 1968]<br />6. Mulher Cobiçada [Jean Grémillon, 1949]<br />7. Jornada Tétrica (1958) + Cinzas que Queimam (1951) [Nicholas Ray]<br />8. A Recompensa [John Ford, 1918]<br />9. Invocation of My Demon Brother [Kenneth Anger, 1969]<br />10. Medeia [Pier Paolo Pasolini, 1969]<br />11. O Estrangulador (1972) + Change Pas de Main (1975) [Paul Vecchiali]<br />12. Desires (1982) + Um Dia Quente de Verão (1991) [Edward Yang]<br />13. Easy Rider [James Benning, 2012]<br />14. A Cortina Carmesim (1953) + Albert Savarus (1993) [Alexandre Astruc]<br />15. Dois Destinos [Valerio Zurlini, 1962]<br />16. Carta da Sibéria [Chris Marker, 1957]<br />17. Pecado Negro [Straub & Huillet, 1989]<br />18. Na Teia do Destino [Max Ophüls, 1949]<br />19. Agosto [Jorge Silva Melo, 1988]<br />20. As Corças (1968) + Entre Amigas (1960) + A Teia de Chocolate (2000) [Claude Chabrol]<br />21. O Quarto Homem (1983) + Louca Paixão (1973) [Paul Verhoeven]<br />22. De Punhos Cerrado (1965) + Irmãs (2006) [Marco Bellocchio]<br />23. Crimes do Futuro (1970) + M. Butterfly (1993) [David Cronenberg]<br />24. O Rei da Morte [Jörg Buttgereit, 1990]<br />25. O Demônio da Passagem [Pierre Coulibeuf, 1995]<br />26. Pedreira de São Diogo [Leon Hirszman, 1962]<br />27. Calafrios [Wojciech Marczewski, 1981]<br />28. O Retrato de Jennie [William Dieterle, 1948]<br />29. A Noite de São Lourenço [Paolo & Vittorio Taviani, 1982]<br />30. Xavier [Manuel Mozos, 1992]</span></span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="font-family: inherit; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #444444;">Menção Honrosa – filmes estrelados por Mazzaropi: O Grande Xerife (1972) + Um Caipira em Bariloche (1973) + No Paraíso das Solteironas (1969) + A Banda das Velhas Virgens (1979) + O Jeca e Seu Filho Preto (1978) + Casinha Pequenina (1963)</span></div>
</div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br /></span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-71036598616062106742016-06-28T16:26:00.000-07:002016-06-28T16:26:02.691-07:00"Os filmes não são sobre a perfeição, eles tentam alcançar algo..." (Peter Hutton)<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZk1QC-r5YDuhjCgTTPoafCQ_ueWzIFgGOgix1UaiOyDgwCaN7Mz57cL1RSEb26UxM-lYQIKer1jvD71q8eF8Dy1I6NufhLqEphBGDVvxEpE1iHLaZTsyOrAjFNzprUdgKPyKR4Z0Eb75q/s1600/vlcsnap-2016-06-28-15h37m07s945.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZk1QC-r5YDuhjCgTTPoafCQ_ueWzIFgGOgix1UaiOyDgwCaN7Mz57cL1RSEb26UxM-lYQIKer1jvD71q8eF8Dy1I6NufhLqEphBGDVvxEpE1iHLaZTsyOrAjFNzprUdgKPyKR4Z0Eb75q/s640/vlcsnap-2016-06-28-15h37m07s945.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">At Sea (Peter Hutton, 2007)</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="color: #666666;">CINEMAD: Houve algum
ponto de ignição que o tornou interessado em filmes de arte?</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;"><b>PETER HUTTON:</b>
Durante os primeiros 10 anos da minha vida criativa eu não fazia filmes; eu
era um pintor quando adolescente, e depois, um escultor. Eu estava em Los
Angeles para um verão, em meados dos anos 60. Fui ver um dos filmes
experimentais de Kenneth Anger, em La Cienega. Então, mudei-me para São
Francisco, para ir ao Instituto de Arte. Eu comecei a ver Harry Smith e Bruce
Conner, na Sociedade Cinematográfica de Ashbury, da qual Freuda Bartlett saiu.
Achei tudo aquilo enorme! Todo mundo achava! De algum modo, era um tipo de
rival à cultura do filme comercial, porque os parâmetros eram abertos a partir
de um cinema tradicional. É interessante ver nos últimos 40 anos o colapso desta
pequena cultura, bastante delicada. É como se isto fosse mantido vivo por
jovens que estão apenas descobrindo este trabalho, que ficam realmente animados
com ele, e felizmente começam a escrever sobre ele. Mas também é mantido vivo
por aqueles que ensinam, pelas escolas de arte que, em sua maior parte,
empregam uma grande quantidade de pessoas que estão se propagando, mostrando o
seu próprio trabalho e de outras pessoas. É relativamente modesto, mas ainda é
uma alternativa maravilhosa para a cultura cinematográfica comercial.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="color: #666666;">Se você quer ver isto,
você tem que se envolver com isto.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">Eu acho que isso é bom. Uma das coisas importantes para mim
é o contraste em relação ao acesso à mídia de TV e os comerciais que estão
sendo empurrados sobre você... Você tem que ser curioso, sair do seu caminho.
Como ir para mercados de pulga e encontrar grandes e velhos livros,
fotografias, pinturas. Você tem que ter essa curiosidade. Há um elemento de
satisfação que vem com a descoberta de algo que não foi divulgado ou estava
diante da cultura comercial. Eu gosto do fato de haver uma obscuridade para a
cultura. Talvez isso seja bom...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="color: #666666;">Você ainda estuda fotografia?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">Não. A pintura era o meu grande negócio. Meu tio era um
artista, Edward Plunkett, ele conhecia um monte de artistas de Nova York,
incluindo Marcel Duchamp e colecionadores de pop arte. Ele foi uma grande
influência para mim. Minha mãe também era uma pintora amadora. Quando eu era
criança, meu pai mantinha um álbum de fotos, como marinheiro mercante. Eu amava
olhar para esses álbuns de fotografias cheios de imagens de lugares que ele
tinha ido, ao trabalhar a bordo de navios; Índia, China, Indonésia. Eram apenas
instantâneos. Paisagens marinhas, fotografias casuais muito amadoras. Isso foi
antes da TV, de modo que era um lugar muito legal imaginar esses lugares.
Quando comecei a trabalhar a bordo de navios, eu fiquei tão feliz por ir a
esses lugares. Construiu-se o meu apreço por este tipo de viagem. Tirei
fotografias quando fui para a Índia, depois eu finalmente aprendi a filmar... Houve
um período de 10 anos, entre '64 e '74, onde eu trabalhava intensamente em
navios. Eu paguei a minha escola de arte trabalhando em navios. Ia para o mar
por um semestre, em seguida, para a escola por um semestre, e voltava do mar
para a escola...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0nEFcYWINVredcmfiVk7R3rhFMHYnRK8Cfh3_dhIGSko-61olRsSVDwhHBBBelaKmoGPHwTd-A1V0D1Y7xnm3sXUAL0gbxAJQtRNv1Xl-xNCtLWSM75jj7d56dC1uCUGW5Suk2HnOioEI/s1600/17.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0nEFcYWINVredcmfiVk7R3rhFMHYnRK8Cfh3_dhIGSko-61olRsSVDwhHBBBelaKmoGPHwTd-A1V0D1Y7xnm3sXUAL0gbxAJQtRNv1Xl-xNCtLWSM75jj7d56dC1uCUGW5Suk2HnOioEI/s640/17.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">[...] Visualmente, estar no mar é fascinante porque é sem
qualquer parâmetro. Não é o mundo que conhecemos. É quase como viajar para o
espaço. Eu sempre pensei que a perspectiva era ótima, especialmente como alguém
que costumava ser um pintor. Isto expõe você a essa atmosfera diferente. Você
experimenta coisas que sente realmente únicas. Mesmo que exista uma tradição de
pinturas marinhas. Se você pensar em alguém como Turner, toda a sua vida foi
gasta fazendo marinhas, pinturas sobre navios e batalhas navais e da natureza,
fazendo referência a essa atmosfera incrível. Quando você trabalha em navios há
muito tempo de inatividade. Você é capaz de se deixar levar e olhar para a
atmosfera do mar. Isso em si é incrível. A noção de tempo é realmente diferente
porque você está viajando muito lentamente. Às vezes, a bordo de navios, você
fica como morto na água. Eles encerram e trabalham no motor, ou algo assim, e
você está apenas lá, flutuante. No meio do nada.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">[...] Há uma espécie de cultura de sobrevivência quando você
está no meio do mar, onde você tem que desenvolver um tipo de acuidade visual
para saber onde está indo, o que está acontecendo. Essa sempre foi uma parte da
cultura marítima; estar olhando com muito cuidado. Um dos benefícios, além de
todas as viagens é que você é forçado a olhar para as coisas com muito mais cuidado.
Particularmente à noite. Você está lá fora na escuridão, está pensando “Não há
nada acontecendo aqui em cima", mas noite após noite após noite, você
começa a ver coisas que sopram em sua mente. Piscinas de plâncton fosforescente
sob o mar que estão explodindo e se iluminando. Eram como alucinações. Ao
atravessar o Mar de Sulu, nas Filipinas, era como se houvesse cargas que se
apagavam nas profundezas e uma luz explodisse sob a superfície do oceano. Botos
raiavam através destes bolsos de plâncton como foguetes subaquáticos.
"Estou realmente vendo isso?"</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="color: #666666;">Em <i>“At Sea”</i> você tem muitos planos de
terra, ou pelo menos de docas modernas que carregam os navios. Sente isso como
menos pessoal, menos humano, do que os dias mais antigos de navegação?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">Como um ex-marinheiro mercante, todos esses planos de
centenas de homens a bordo do navio, tirando a carga, trazem-me de volta a este
momento em minha vida quando todas estas imagens fascinantes me envolveram.
Confronto um sentido do mundo e sinto o quão diferente o mundo era. Há algo
sobre voltar no tempo. É tão importante mostrar às pessoas que isso é o que
acontece quando você acaba com essas coisas modernas. Estamos nesta zona de
penumbra onde você faz essa estrutura extremamente sofisticada, envia-a para o
mundo e acaba sendo desmontada pelas mãos de alguém. Fazer essa conexão é
realmente interessante, embora, ironicamente, esta seja a primeira parte do
filme. O filme começa no futuro e termina nesta paisagem matinha atemporal que
parece pré-industrial.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="color: #666666;">Você está filmando com
uma Bolex?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">Eu tenho uma velha Arri-S.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="color: #666666;">Então, você ainda
pode fazer um plano longo, mas o rolo vai acabar.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">Eu gosto disso, eu acho que é bom. Penso que uma das
melhores coisas sobre o cinema funciona fora do filme. Consiste em mudar o seu
ponto de vista e misturá-lo um pouco mais. Com o HD, você pode fazer um plano
de 2 ou 8 horas...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="color: #666666;">Quanto de metragem você
costuma filmar e não usar?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">Tendo a filmar na proporção de 2:1. Algumas vezes 3:1. A
proporção 4:1 é a mais extravagante, porque não posso pagar. Os filmes não são
sobre a perfeição, eles tentam alcançar algo e dar a isto alguma credibilidade
e qualidade. Quase tudo que eu filmo parece razoavelmente bom, só que às vezes
você está tentando algo diferente. "Bem, talvez eu filme aqui, talvez ali,
a esta luz, ou na sombra..." Você pressiona constantemente só para ver. Num
filme, eu nunca tenho 100% de certeza de como ele vai sair. Mesmo depois de 30
anos eu não posso conseguir isto, mas você não se preocupa com isso. Estou
sempre tentando dar às imagens um pouco de margem para que elas pareçam
diferentes da coisa média.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">Na maior parte, não há um público para o que eu faço. Você
meio que trabalha com o que está feliz e joga o resto fora. Você espera que as
pessoas possam aprender com isso ou ter algum tipo de apreço por isso. É um
desafio mantê-lo como uma coisa pessoal. Você não vai morrer se não funcionar,
mas você quer que seja aceito, como você deseja contribuir com algo para o
público. Você está investindo nisso. Não é diferente de escrever ou pintar,
você só quer definir a si mesmo uma forma estilística e espero que isso reflita
bem como uma variação, em uma tradição visual de cinema. É como ser um poeta.
Você nunca vai conseguir a atenção de um romancista, mas pode haver algo para que
alguém fique interessado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">*** entrevista traduzida do site <a href="http://www.gwarlingo.com/2012/flimmaker-peter-hutton/">GWARLINGO</a> (jun. 2012)</span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-5828382029930378172016-06-26T20:26:00.000-07:002016-06-26T20:30:31.436-07:00"Há um filme incrível acontecendo todos os dias, diante de nós" (Peter Hutton)<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb0vbeCZa4BCZD2SNh6k0HXWSraNjY2lV2KVBL2kPy0pXDlrLo50qOxGV90I9R3tQH9OJ7SRLBEjwDVOO8B5Sj9UrczIDVjEpOR1cW6AAM2UyIuFtJbM2lXoTFbIbIVcuuoedDBwMm_8zV/s1600/vlcsnap-2016-06-26-16h43m28s747.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="491" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb0vbeCZa4BCZD2SNh6k0HXWSraNjY2lV2KVBL2kPy0pXDlrLo50qOxGV90I9R3tQH9OJ7SRLBEjwDVOO8B5Sj9UrczIDVjEpOR1cW6AAM2UyIuFtJbM2lXoTFbIbIVcuuoedDBwMm_8zV/s640/vlcsnap-2016-06-26-16h43m28s747.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Three Landscapes (Peter Hutton, 2013)</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Luke Fowler: </b>Sei que você está filmando seu próximo projeto
em três lugares: Detroit, em Michigan; Mekelle, na Etiópia; e o Vale do rio
Hudson, em Nova York. O que o atraiu nesses locais?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Peter Hutton: </b>O novo filme tem o título provisório de “Três Paisagens”.
A primeira parte foi captada perto de Detroit, onde eu cresci. Eu trabalhava
como marinheiro mercante nos Grandes Lagos, durante os anos 1960 (continuei
trabalhando a bordo de navios ao longo da década de 1970) e meu posto da união ficava
em River Rouge, uma área densamente industrial. Passei algumas semanas lá
novamente, há três anos, documentando uma usina chamada Zug Island, que ainda
está funcionando. Foi um pesadelo para filmar. Outra usina siderúrgica, abandonada,
tornou-se fonte de algumas imagens adicionais.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu viajei ao longo da Avenida West Jefferson, nas
proximidades, e gravei tudo o que me atraiu. Culminou em um estudo de dois
homens que andam acima do cabo de suspensão da Ponte Ambassador, que conecta
Detroit com Windsor, no Canadá. Todo o material parece um sonho, que é
adequado, uma vez que grande parte da paisagem circundante Detroit está morta.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O Vale do Rio Hudson é a minha casa. No verão eu estou
sempre espantado com sua bela paisagem. Os verdes prados secos, onde os fardos
de feno fazem longas sombras naquela hora mágica do dia. As nuvens que rolam
sobre as montanhas enormes são impressionantes, evocando sonhos. Lembro de ter
lido um relato da viagem de Henry Hudson até o Rio Hudson, e como ele perfumou
a terra e os marinheiros a bordo de seu navio; eles podiam cheirar as árvores
de fruto abundante. Vindo dos climas desanimadores da Europa Ocidental, eles
pensaram que tinha chegado ao paraíso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A paisagem final será na Etiópia. Em 1968, o cineasta Robert
Gardner foi até a Depressão de Dallol e fez um curto filme sobre os pastores de
camelos Afar, que colhem o sal lá. É o ponto mais baixo da África, que é
essencialmente um vasto depósito de sal. É também um dos lugares mais quentes
da Terra. Em 2010, mostrou seu filme como parte de uma retrospectiva de sua
obra no Bard College, onde eu tenho ensinado desde 1984. Gardner me perguntou
então se eu estaria interessado em ir para Dallol, para expandir o que ele fez
em 1968. Seu filme é muito bonito, mas também muito curto. Eu concordei.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Então, no ano passado eu fui para a Etiópia com minha esposa
e um amigo cineasta, Mott Hupfel. Nós planejamos acampar na área por cinco
dias. No dia anterior partimos de Mekelle para Adis Abeba, e um grupo de
rebeldes da Eritreia veio do outro lado da fronteira, assassinando seis
turistas europeus, e sequestrando dois cidadãos alemães. Como resultado, o
governo etíope encerrou viagens ao exterior para essa região.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora, um ano depois, estou me preparando para voltar e
tentar novamente. Uma das imagens mais inesquecíveis de Gardner é um plano
distante de uma caravana de camelos atravessando o horizonte. Por causa das
ondas de calor intensas, a paisagem parece estar derretendo. Não se tem certeza
se é real ou uma alucinação. Estou assombrado por essa imagem, é como algo que
você pode ver antes da morte, uma memória antiga sobre a viagem.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Isso, espero, será o foco do meu filme. O que exatamente
isso tem a ver com o meu material de Detroit, ou com o Vale do rio Hudson, eu
não estou inteiramente certo. Há alguma ironia, no entanto, no fato de que eu filmo
uma enorme pilha de sal em Detroit, há três anos. Existe uma vasta mina de sal
sob essa área da cidade. Na verdade, eu tentei entrar na mina e filmar na
década de 1960, mas foi negada a permissão naquele momento. Que metáfora para
Detroit!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0Peb-QmBouUlMJYLWY8Ys93RQ0LsoVpedgWkx-OECJ-SwDbOQrJcloZCbzw3hlFa3UhHfc66ztm4ujoiCGB8zKZCyZsB2bPi001_cXxorR2xz4GpOqafFvHuf6hseOjS5mQb5EzXA0vmE/s1600/vlcsnap-2016-06-26-17h32m37s218.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="492" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0Peb-QmBouUlMJYLWY8Ys93RQ0LsoVpedgWkx-OECJ-SwDbOQrJcloZCbzw3hlFa3UhHfc66ztm4ujoiCGB8zKZCyZsB2bPi001_cXxorR2xz4GpOqafFvHuf6hseOjS5mQb5EzXA0vmE/s640/vlcsnap-2016-06-26-17h32m37s218.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>LF:</b> Você gasta muito tempo estudando o movimento de pessoas,
trabalho e meio ambiente. Você vê o seu trabalho como tendo um valor intrínseco,
antropológico e histórico? Eu vejo o meu trabalho dessa forma.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>PH: </b>Bem, por exemplo, os processos lentos de seres humanos
que trabalham na agricultura, no Vale do Rio Hudson são bastante notáveis de se
assistir, e eu acredito que é necessário capturar esse sentido agrário do
tempo. Todos os sujeitos do trabalho: fazendeiros que aram o rico solo negro,
cortando o feno, plantando e colhendo. Eles são jovens e idosos, de diferentes
partes do mundo, todos se movendo muito lentamente através da terra. Muitas
vezes eu vou observar um grupo agachado, arrancando ervas daninhas por horas, sob
o sol escaldante, apenas avançando junto com eles. O tempo quase para. É uma atividade
que parece mais adequada à pintura; muitas vezes, as nuvens estão se movendo
mais rápido do que os trabalhadores. Isto é cinematográfico? A lentidão
parece-me uma revelação dos destinos. Essas pessoas vão, sem dúvida, para o céu
no meu mundo; elas são próprias dele, depois de curvarem-se durante todo o dia
no calor do verão.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Há também, é claro, as máquinas, tais como os tratores que ressoam
ao longo do corte de feno; eles olham como se nadassem através da grama. As
máquinas de feno são engraçadas, parecem grandes insetos mecânicos defecando
detritos redondos que rolam pelo chão enquanto o vapor sobe, que é a poeira do
feno. Quão biomórfico e alegórico isto me parece.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>LF: </b>Seus filmes muitas vezes me fazem lembrar do livro de
Raymond Williams, “The Country and the City”, onde ele fala sobre a falsa
dicotomia entre essas duas regiões. Por exemplo, como as pessoas da cidade veem
o país com um olhar romântico, embora a realidade do país seja um local de
trabalho que interliga a cidade em linhas vitais de comunicação, indústria e
política. Você se lembra da citação que eu utilizado em nosso filme “The Poor
Stockinger”, onde Williams fala sobre a ideia em pintura de "perspectiva":
<i>Os sinais de pessoas que trabalham na
paisagem são muitas vezes vistos como intrusivos, estragos à paisagem... Há uma
sensação de que, quando você está olhando para uma foto, você quer controlar e
compor os elementos, você quer em um sentido colocar uma moldura em torno
deles, como as pessoas ainda o fazem em fotografia. Muito movimento, muita vida
vai contradizer o que você está procurando.</i> Eu penso a ideia do século 18
de "perspectiva", onde você encontrava um ponto de vista dominante e
olhava algumas vias do país, cada vez mais frequentemente como as paisagens que
tinha visto... que implica a separação do país como um lugar de vida e de
trabalho. Como é que estas ideias se relacionam com o seu trabalho?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>PH: </b>Eu tenho, tradicionalmente, recuperado e retornado aos
projetos entre cidades e campos, e definitivamente sinto que eles estão ligados
de muitas maneiras. É muito irônica a atual desintegração urbana de espaços - Detroit,
por exemplo - , onde a cidade está sendo invadida pelo campo por meio de
"jardins urbanos", de "cinturões verdes" e a forte
importância dos “espaços abertos”. Eu sempre achei que a experiência de estar
no mar, dava-me uma maior consciência dos espaços urbanos, fazendo-me bem
consciente da influência da natureza sobre o meio ambiente da cidade.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Lembro-me de uma vez, lendo uma anotação do pintor Albert
Pinkham Ryder. Havia um desfile em Greenwich Village e ele estava sentado na
calçada, observando as nuvens aéreas. Eu sempre amei as marinhas que ele pintou
de New Bedford, Massachusetts. Eu era um pintor quando jovem, e a pintura
continua a ser uma influência primordial no meu cinema. Há muita autorreferência
em muitos de seus filmes recentes, parecido com um diário. Por quê?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>LF:</b> É puro narcisismo! Brincadeira. Eu acho que há muitas
razões. Uma delas é uma reação contra a noção falsa de objetividade no cinema
de não-ficção, dizendo que de alguma forma esses filmes são imparciais ou
objetivos e não codificam as crenças e opiniões dos autores. Lembro-me de
assistir aos documentários na BBC quando eu estava crescendo, e os créditos
finais não listavam nenhum diretor, apenas um produtor. O que me confundia,
pois muitas vezes não haveria a "voz de Deus", a maioria esmagadora
narrada sobre a parte superior da imagem. Às vezes pode ser simplesmente uma
razão pragmática, você sabe, trazer uma figura ao quadro. Também filmei as
pessoas que com quem trabalhei ou vivia: Lee Patterson, Eric La Casa, Toshiya
Tsunoda, minha mãe. Eu acredito que você e George estão nessa lista agora,
também.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>LF:</b> Temos discutido nossa admiração mútua pelo trabalho de
seus colegas, James Benning e Nathaniel Dorsky, e ainda assim você parece
igualmente perto, pessoalmente e profissionalmente, ao cinema antropológico de
Robert Gardner. Você acha que o seu trabalho de alguma forma, é uma ponte entre
os diferentes valores desses dois mundos distintos? Ou talvez eles não sejam
tão distintos como eu os percebo?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>PH:</b> Quando eu comecei a fazer filmes, na década de 1960, pensei
que tudo o que eu precisava fazer era viver uma vida interessante e continuar a
viajar, e as coisas iriam cuidar de si mesmas. Eu sempre admirei os artistas
que viveram no mundo. Gardner fez exatamente isso. Ben Rivers, a quem eu admiro
muito, faz isso também. Eu acho que tem muito a ver com a ideia de que "a
verdade é mais estranha que a ficção". Eu sempre senti que há um filme
incrível acontecendo durante todo o dia, todos os dias, mesmo diante de nós.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando eu era jovem, na década de 1950, meu pai muitas vezes
levava a mim e ao meu irmão para ver <i>travelogues</i>
selecionados no Instituto de Arte de Detroit. Eram maravilhosos filmes amadores
feitos por uma grande variedade de pessoas que amavam viajar. Eles variavam de
viagens ao parque nacional de Yellowstone, nos EUA, aos mais exóticos filmes
feitos na Europa e na Ásia. Alguns foram muito inteligentemente filmados, em
Bolex; outros eram mais diretos, com o uso de mão pesada e de voz-over. Meu pai
adorava esses filmes. Ele tinha feito seus próprios registros fotográficos de
suas viagens, como marinheiro mercante, quando era jovem. Seu álbum de fotos me
afetou muito, quando criança. Lembro-me de ir ver <i>Mondo Cane</i> com ele, quando ele atuou em um teatro em Detroit. No
início de 1960, ele criou uma sociedade cinematográfica com um amigo, e eles
selecionaram filmes de Jacques Tati, entre outros. Certa vez, ele recebeu uma
carta de Tati agradecendo-lhe por mostrar “As Férias do Sr. Hulot” tantas
vezes!</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estas influências se infiltraram em meu cérebro ingênuo. Eu
sempre quis ser um artista, mas nunca imaginei que iria acabar fazendo filmes.
Então, em meados dos anos 1960, peguei uma câmera de 8 milímetros e comecei a
documentar performances que eu tinha criado como estudante de escultura, no
Instituto de Arte de São Francisco. Os filmes me abstraíram o desempenho e
foram muito mais interessantes para mim. Foi nessa época que comecei a
considerar o cinema um meio adequado para os meus anseios criativos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Às vezes penso que vou, algum dia, acabar na pintura
novamente. O fim do cinema está ajudando a apressar isso. Por que fazemos
filmes, de qualquer maneira? Nós compartilhamos um amor pelo cinema e a criação
de registros de nossas vidas diretamente nos filmes.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b>LF:</b> Quando eu estou fazendo um filme, sou frequentemente
motivado pela ideia de que eu me sinto confortável habitando o mundo de meu
tema por um longo período de tempo. Durante este período eu jogo fora, muito
rapidamente, qualquer ideia de tese, script ou ideia preconcebida, derivando entre
a intuição, a experiência e a pesquisa. Não é que eu tenha medo de cometer uma
ideia ou fazer uma declaração; sou apenas resistente a um procedimento
positivista que exclui a experiência, de ser capaz de reagir às realizações de
mudanças e circunstâncias que inevitavelmente surgem durante o processo de
fabricação. Eu aprendo, em termos mais amplos, através da filmagem. Em troca, sinto
que tenho o dever de oferecer algo de volta para o público que reflete
honestamente o meu processo e método. Apesar de eu perceber que (como acontece
com os seus filmes, que são todos silenciosos) um pouco do que eu estou
tentando fazer pode ser perdido em pessoas que estão acostumadas ao surf, ou a vasculhar
constantemente a Internet.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
*** entrevista traduzida da <a href="http://moussemagazine.it/articolo.mm?id=945">Revista MOUSSE</a> (#37, fev. 2013)</div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-88551730601866478892016-06-23T11:09:00.002-07:002016-06-23T11:10:47.207-07:00Arquitetura do Corpo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoMPhngpCM9H6hxh20yo6vFXTzYbfw1hPrPzRshJ1iDRjlmmgBETn9C40bhlw2w8vWxTAiEMyXKI2b8nx6DvkHVMMy2Ajqd148ieb9LZDtE0VXHJKaoYe2P-YsL9v8fuN0Nji8GZLZshF6/s1600/z.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoMPhngpCM9H6hxh20yo6vFXTzYbfw1hPrPzRshJ1iDRjlmmgBETn9C40bhlw2w8vWxTAiEMyXKI2b8nx6DvkHVMMy2Ajqd148ieb9LZDtE0VXHJKaoYe2P-YsL9v8fuN0Nji8GZLZshF6/s400/z.jpg" width="240" /></a></div>
<br />
<span style="color: #666666;"><br /></span>
<span style="color: #666666;"><br /></span>
<span style="color: #666666;">Assim como a fusão sobre o rosto de Henry Fonda, em <i>The Wrong Man </i>(1957), está para o cinema
de Hitchcock, o deslocamento em <i>fade</i> sobre
o rosto de Michael Ironside, em <i>Scanners</i>
(1981), está para a obra de David Cronenberg. </span><span style="color: #666666;">Em apenas um corte, temos o mais
perfeito retrato desta arquitetura do corpo que o autor canadense vem
construindo desde seus primeiros filmes. A sobreposição na tela do prédio que
abriga um instituto para as experiências com os </span><i style="color: #666666;">scanners</i><span style="color: #666666;">, homens geneticamente modificados, tomando o lugar de um
rosto que pertencia a um </span><i style="color: #666666;">scanner</i><span style="color: #666666;">, vem
representar este exato tom de mutação pesquisado por Cronenberg a respeito da carne
e do espírito humanos. </span><br />
<span style="color: #666666;"><br /></span>
<span style="color: #666666;">Um cinema que investiga todas as possibilidades de
organização do espaço – sempre uma questão de </span><i style="color: #666666;">mise en scène –</i><span style="color: #666666;">, entre homens e máquinas, entre o sangue e o metal,
entre inteligências que já se distinguem com dificuldade (pois como falar de
natural e artificial em cinema?); espera-se a imagem que harmonize este
desequilíbrio, que encontre o ponto limite da humanidade diante de suas invenções,
não mais restritas ao que criamos com as nossas mãos, se o próprio homem já se tornou
uma invenção de si mesmo. Hitchcock fundamentava a sua cena em uma imagem de
Cristo; Cronenberg faz o mesmo com uma estrutura de concreto, símbolo da
ciência. Entre um e outro, uma passagem exemplar do que o séc. XX atravessa em
suas transformações. Retornamos às pedras.</span><br />
<div class="MsoNormal">
</div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-5858086201261652702015-12-31T08:22:00.000-08:002016-06-23T08:24:19.189-07:00TOPs 2015<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #666666;">A herança de meu 2015 literário, nas obras que mais me impactaram:</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #666666;">1. A Montanha Mágica (Thomas Mann)</span><br />
<span style="color: #666666;">2. O Pobre de Deus (Nikos Kazantzákis)</span><br />
<span style="color: #666666;">3. A Volta do Filho Pródigo (André Gide)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. Cantares (Hilda Hilst)<br />5. A Poética do Devaneio (Gaston Bachelard)<br />6. Poemas (Stéphane Mallarmé – organizado por J. L. Grünewald)<br />7. Lolita (Vladimir Nabokov)<br />8. Diário de Um Ladrão (Jean Genet)<br />9. A Arte dos Ociosos (Hermann Hesse)<br />10. O Homem que Via o Trem Passar (Georges Simenon)<br />11. Uma Voz Vinda de Outro Lugar (Maurice Blanchot)<br />12. Infância (Graciliano Ramos)<br />13. Manual de Pintura e Caligrafia (José Saramago)<br />14. O Jogador (Fiodor Dostoiévski)<br />15. Carta ao Pai (Franz Kafka)</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #666666; display: inline; font-family: inherit;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #666666;">Meu cinema de 2015, nas melhores lembranças:</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #666666; display: inline; font-family: inherit;"></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #666666;">1. Visita ou Memórias e Confissões (Manoel de Oliveira)</span><br />
<span style="color: #666666;">2. A Assassina (Hou Hsiao-Hsien)</span><br />
<span style="color: #666666;">3. A Visita (M. Night Shyamalan)<span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;"><br />4. João Bénard da Costa: outros amarão as coisas que eu amei (Manuel Mozos)<br />5. Noites Brancas no Píer (Paul Vecchiali)<br />6. A Sapiência (Eugène Green)<br />7. Garoto (Júlio Bressane)<br />8. História Natural (James Benning)<br />9. Boi Neon (Gabriel Mascaro)<br />10. Os Maias (João Botelho)<br />Menção Especial: Remerciements de Jean-Luc Godard à son Prix d’Honneur du Cinéma Suisse (Jean-Luc Godard)</span></span></div>
<span style="color: #666666;"><span style="color: #444444;"><br /></span>
</span><br />
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #666666;">A ordem, apesar de pensada, poderia ser outra amanhã mesmo, dependendo do humor. Mas os títulos certamente se manteriam estes em qualquer tempo. Do insano ritmo que me levou a conferir 408 filmes em 2015, fica o destaque para os seguintes. E meu desejo de um feliz ano novo a todos!!!</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #666666;">1. História(s) do Cinema (Jean-Luc Godard, 1988-98)</span><br />
<span style="color: #666666;">2. Ao Rufar dos Tambores (1939) + O Sol Brilha na Imensidão (1953) + A Mocidade de Lincoln (1939) + Como Era Verde o Meu Vale (1941) + A Longa <span class="text_exposed_show" style="display: inline; font-family: inherit;">Viagem de Volta (1940) + Audazes e Malditos (1960) [John Ford]<br />3. As I Was Moving Ahead Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty (Jonas Mekas, 2000)<br />4. O Sapato de Cetim (Manoel de Oliveira, 1985)<br />5. Copacabana, Mon Amour (Rogério Sganzerla, 1970)<br />6. Serge Daney: Itinerário de um ‘Cine-Filho’ (Pierre-André Boutang & Dominique Rabourdin, 1992)<br />7. La Nuit du Carrefour (1932) + A Besta Humana (1938) + Segredos de Alcova (1946) [Jean Renoir]<br />8. Showgirls (Paul Verhoeven, 1995)<br />9. Othello (Orson Welles, 1952)<br />10. Reinado do Terror (Joseph H. Lewis, 1958)<br />11. Flammes (Adolfo Arrieta, 1978)<br />12. Emak-Bakia (Man Ray, 1927)<br />13. O Intendente Sanshô (Kenji Mizoguchi, 1954)<br />14. Hardcore (1979) + Mishima (1985) + Vivendo na Corda Bamba (1978) + A Marca da Pantera (1982) + Auto Focus (2002) [Paul Schrader]<br />15. Madrugada da Traição (Edgar G. Ulmer, 1955)<br />16. Torso (Sergio Martino, 1973)<br />17. O Amor (Roberto Rossellini, 1948)<br />18. Jesse James (Henry King, 1939)<br />19. Antes da Revolução (Bernardo Bertolucci, 1964)<br />20. Não Toque no Machado (Jacques Rivette, 2007)<br />21. Le Mirage (Jean-Claude Guiguet, 1992)<br />22. Línguas Desatadas (Marlon Riggs, 1989)<br />23. Sul (Chantal Akerman, 1999)<br />24. Marrocos (Josef Von Sternberg, 1930)<br />25. Sodom (Luther Price, 1989)<br />26. Antes Passe no Vestibular (Maurice Pialat, 1978)<br />27. Uma Vida (Alexandre Astruc, 1958)<br />28. Império do Pavor (Budd Boetticher, 1952)<br />29. Desejo (Vojtech Jasný, 1958)<br />30. Verão do Medo (Wes Craven, 1978)</span></span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-526535624054732682015-02-03T07:39:00.000-08:002015-02-03T07:46:32.408-08:00O Olhar das Pétalas<div style="text-align: left;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXMM76Ya565ckp2hAP-RRJDZAeAiE1eWeA5B5NszZMc4I2mM_-H6O5Fui7M8oaotP1El9nueru3Y3FeRkl8_H_jpMUNdKI20fHOEHl_3pAoJSFzu20iqaCAws5r_ajcE6v_CyGHlt5z_6s/s1600/z3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXMM76Ya565ckp2hAP-RRJDZAeAiE1eWeA5B5NszZMc4I2mM_-H6O5Fui7M8oaotP1El9nueru3Y3FeRkl8_H_jpMUNdKI20fHOEHl_3pAoJSFzu20iqaCAws5r_ajcE6v_CyGHlt5z_6s/s1600/z3.jpg" height="235" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Papoula, Kenji Mizoguchi, 1935.</td></tr>
</tbody></table>
Entre o corpo e o desejo, entre o amor e a lógica, este violento e perpétuo colidir com a natureza. Não há sentimento em Mizoguchi que não seja partilhado por um ente vivo anterior à razão, e o detalhe de um pequeno jarro com flores pode ser a maior ponte (ao menos em termos de imagem e continuidade) entre corações que custam a se encontrar. Vem dele o corte, ou a emancipação do que fora preciso romper no quadro, a reconexão final dos contracampos que não podem se tocar na tela, mas se completam em nós. De um lado, o porta-retrato, a imagem da impossibilidade, do outro, um olhar que já não sabe confiar no futuro, que vacila na errância do corpo e fraqueja pela impotência do lar. Um cinema em que nunca se está só, já que o mundo e seus entes naturais tudo acompanham, uma obra que também não nos deixa, conectando em nós os espaços fendidos pelo que não podemos viver. Cada filme de Mizoguchi é como uma pétala que, mesmo seca, reaviva-nos.</div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-70071866274438746552015-02-03T07:17:00.002-08:002015-02-03T07:18:06.121-08:00A Memória Rubra<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuBXPWNWljmdVkl4vPbcvBNf0K-iHcm_UMP7EdLnBsE9tcAgOpC-VA6VPguvki4prvGPOC-eu5_bdr46_8ugKm4vr6K6qrvP8PYZymVWumn46VIrikbFbIYc6ZsDfO0i1XC2_wQcdlmh2-/s1600/vlcsnap-2015-02-01-00h13m16s159.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuBXPWNWljmdVkl4vPbcvBNf0K-iHcm_UMP7EdLnBsE9tcAgOpC-VA6VPguvki4prvGPOC-eu5_bdr46_8ugKm4vr6K6qrvP8PYZymVWumn46VIrikbFbIYc6ZsDfO0i1XC2_wQcdlmh2-/s1600/vlcsnap-2015-02-01-00h13m16s159.jpg" height="380" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Escravas do Desejo, Harry Kümel, 1971.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #666666;">Não apenas pelo melodrama sobrevive o vermelho no cinema,
mas Delphine Seyrig não deixa de se revestir com melancolia para encarnar o
vampirismo avesso à Marienbad, a constituir <i>Les
Lèvres Rouges, </i>escarlate desde o título. Uma presença de cor, uma
corporeidade da hipnose esta sua aparição como milenar condessa Bathory,
atravessando saguões e espaços aliançados às célebres protagonistas que viveu
com Resnais e Duras (<i>India Song</i>). Delphine
talvez seja esta desconhecida por quem todos nos apaixonamos em algum corredor
de hotel, este rosto lembrado de algum sonho, esta vontade de entrega e sedução
pelo que não se reencontrará no futuro, além da memória. Não há pescoço que lhe
resista.</span><o:p></o:p></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-6459855780671247492014-12-31T05:52:00.000-08:002015-02-03T05:54:28.412-08:00TOPs 2014<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #666666;">A herança de meu 2014 literário, nas obras que mais me impactaram:</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #666666;">1. O Jogo das Contas de Vidro (Hermann Hesse)</span><br />
<span style="color: #666666;">2. A Morte de Virgílio (Hermann Broch)</span><br />
<span style="color: #666666;">3. A Morte de Empédocles (Friedrich Hölderlin)<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />4. Cartas Sobre Cézanne (Rainer M. Rilke)<br />5. O Cristo Recrucificado (Nikos Kazantzákis)<br />6. Os Moedeiros Falsos + Diário dos Moedeiros Falsos (André Gide)<br />7. Fazer Um Filme (Federico Fellini)<br />8. Noites Brancas (Fiódor Dostoiévski)<br />9. Um Copo de Cólera (Raduan Nassar)<br />10. A Redoma de Vidro (Sylvia Plath)<br />11. As Coisas (Georges Perec)<br />12. A Confissão de Lúcio (Mário de Sá-Carneiro)<br />13. Bartleby, O Escrivão (Herman Melville)<br />14. A Condição Humana (André Malraux)<br />15. A Maleta do Meu Pai (Orhan Pamuk)</span></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #666666; display: inline;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px; margin-bottom: 6px;">
<span style="color: #666666;">Meu cinema de 2014 nas melhores lembranças:</span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #666666; display: inline;"></span></div>
<div style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<span style="color: #666666;">1. Jornada ao Oeste (Tsai Ming-Liang)</span><br />
<span style="color: #666666;">2. Diálogo de Sombras (Jean-Marie Straub & Danièle Huillet)</span><br />
<span style="color: #666666;">3. Adeus à Linguagem + Khan Khanne (Jean-Luc Godard)<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />4. O Jardim das Palavras (Makoto Shinkai) + O Ciúme (Philippe Garrel)<br />5. Era Uma Vez em Nova York (James Gray)<br />6. E Agora? Lembra-me (Joaquim Pinto)<br />7. Bem-Vindo a Nova York (Abel Ferrara)<br />8. História da Minha Morte (Albert Serra)<br />9. Balada de Um Homem Comum (Joel & Ethan Coen) + Jersey Boys (Clint Eastwood)<br />10. Centro Histórico (Aki Kaurismäki, Pedro Costa, Víctor Erice e Manoel de Oliveira)</span></span></div>
<span style="color: #666666;"><span style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px;">E para fechar o ano, segue a tradicional lista de melhores filmes descobertos, independente de seu lançamento. É difícil dar um ponto final na hierarquia das lembranças, amanhã mesmo eu poderia mudar as posições ou alterar alguns dos títulos, já que ela não cobre nem 10% do que eu vi em 2014 e pelo menos mais uns 30 filmes mereceriam lembrança. Mas serve de norte para a memória e de sugestão para quem procura bons títulos para as férias. Feliz ano novo a todos!!!</span></span><br />
<span style="color: #666666;"><span style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px;">1. As Arm</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17.5636348724365px;">as das Árvores (Jonas Mekas)<br />2. Viagem ao Princípio do Mundo (Manoel de Oliveira)<br />3. A Morte de Empédocles (Jean-Marie Straub & Danièle Huillet)<br />4. El Valley Centro + Los + Sogobi (James Benning)<br />5. Os Primos (Claude Chabrol)<br />6. Yoyo (Pierre Étaix)<br />7. Se Colar Olhou (Ivan Cordeiro)<br />8. A Mãe e A Puta (Jean Eustache)<br />9. Le Dormeur + La Champignonne (Pascal Aubier)<br />10. Les Intrigues de Sylvia Couski (Adolfo Arrieta)<br />11. Crepúsculo do Caos (Derek Jarman)<br />12. Mulher, Mulher + A Força dos Sentidos (Jean Garret)<br />13. A Mulher do Ganges (Marguerite Duras)<br />14. Deus Sabe o Quanto Amei (Vincente Minnelli)<br />15. Noites de Cabíria + Os Palhaços (Federico Fellini)<br />16. A Mulher do Aviador (Eric Rohmer)<br />17. Cavalgada Trágica (Budd Boetticher)<br />18. Saló, 120 Dias de Sodoma (Pier Paolo Pasolini)<br />19. Um Sábado Violento (Richard Fleischer)<br />20. Femmes, Femmes (Paul Vecchiali)<br />21. Trinta Anos Esta Noite (Louis Malle)<br />22. Os Donos da Noite (James Gray)<br />23. O Chicote e O Corpo (Mario Bava)<br />24. O Último Golpe (Michael Cimino)<br />25. Les Doigts Dans La Tête (Jacques Doillon)<br />26. A Noite do Demônio (Jacques Tourneur)<br />27. A Filha de Ryan (David Lean)<br />28. Loulou (Maurice Pialat)<br />29. A Rosa de Ferro (Jean Rolin)<br />30. Correspondências (J. Mekas – J. L. Guerín)</span></span>nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-9900160556535140562014-09-02T10:04:00.000-07:002014-09-02T10:07:17.282-07:00Sobre a Crítica Cinematográfica<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Na última semana, fui procurado virtualmente pela estudante
Amanda Morais (Colégio da Polícia Militar, 3º Ano), e convidado a participar de
uma breve entrevista que ela precisava fazer sobre a crítica cinematográfica
para um projeto na disciplina de Português. Foi uma conversa bastante objetiva,
mas que me fez pensar em aspectos centrais da crítica e das razões que me fazem
enveredar por ela, acreditar nela. Para que o conteúdo não se perca, e com permissão
da Amanda, guardo por aqui o diálogo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><u><span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Qual o Papel da Crítica
Cinematográfica em relação ao Cinema?<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Gostaria
de copiar um parágrafo específico de um Editorial que escrevi para o
Filmologia, na edição #10 (maio/julho 2012), que explica muito da minha postura
com relação à crítica de cinema:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><i>É com o cuidado do verso que nos aproximamos do cinema. Com a
certeza de que nas imagens que amamos pulsa uma poética responsável pelo que
nos leva a discutir, refletir, perpetuar tudo o que vemos e ouvimos nas sessões
compartilhadas. Nossa postura crítica, que vai muito além do exercício da
escrita avaliativa, fundamenta-se na certeza de que os filmes, quaisquer que
sejam, não nos pedem uma explicação, um juízo de certo/errado ou a aplicação de
fórmulas que os desgastem e esvaziem — tornando-os pratos frios servidos em
bandeja, como ilustrava Bazin. Vivemos os filmes nas letras porque ouvimos
neles um pedido de permanência, de continuidade ao que proporcionaram nas
telas; escrevemos sobre eles, os revivemos na procura da imagem síntese
(procedimento que já é marca das páginas do<span class="apple-converted-space"> </span>Filmologia,
pois não só de textos vive a crítica) porque acreditamos numa cinefilia que não
se encerra ao fim de uma projeção, ao término de um<span class="apple-converted-space"> </span>download.<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br />
Dentro deste comentário, saliento alguns pontos essenciais da crítica:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">-
‘o cuidado do verso’: a boa crítica é sempre uma nova obra, isso aprendemos com
o teórico Roland Barthes, que fala da crítica como escritura, como algo que não
deve envelhecer ou ficar limitado ao calor de um lançamento;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">-
‘discutir, refletir e perpetuar’: são as principais ações de uma crítica, pois
ampliam as possibilidades de interpretação de um filme, fomentam o diálogo com
o público, salientando o caráter coletivo que é próprio do cinema, e cuidam de
prolongar, ao máximo, os efeitos atingidos e provocados pelo filme, fazendo com
que ele permaneça vivo em nossa memória;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">-
‘ir além da explicação’: o francês André Bazin, um pioneiro da crítica
cinematográfica, já dizia que uma crítica não pode tratar um filme como um
prato frio, servido em bandejas. A crítica não deve explicar, reduzir tudo a
símbolos, ou mesmo limitar-se ao julgamento (o que é bom ou ruim, o que é certo
ou errado). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br />
<b><u><span style="background: white;">Qual o
momento da Crítica Cinematográfica com o Cinema Alagoano?</span><br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--></u></b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Também
no Filmologia, fizemos um dossiê sobre o cinema alagoano, na <a href="http://www.filmologia.com.br/?p=6977">edição #14 (LINK)</a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Recomendo
a leitura e sintetizo que, pelo que percebo, a crítica alagoana (e toda crítica
reflete aquilo o que critica) está engatinhando. Infelizmente, ela tem
encontrado resistência dos próprios realizadores de filmes, que muitas vezes
confundem o espírito crítico com a divulgação cultural. Já li vários
comentários de jovens cineastas da cidade que demonstravam procurar, na
crítica, uma mera veiculação de marketing, ao invés do pensamento mais profundo
sobre a sua obra. Apesar disso, creio que se trata de um momento promissor e
aberto a novas vozes, especialmente, pelas possibilidades do mundo virtual.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><u><span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">O que é necessário para
ser um crítico cinematográfico?</span></u></b><b><u><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Não quero que tome minha resposta dentro de um raciocínio
didático, pois não creio que o exercício crítico tenha fórmulas específicas ou
fixas. Como o aproximo muito da própria criação literária e poética, prefiro
que ele seja livre e liberte o próprio cinema.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Porém, posso apontar cinco aspectos que me parecem essenciais
em um bom crítico:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">- Humildade: nenhum crítico é a ‘voz da verdade’, toda
opinião é subjetiva e passível de confrontação, então, é preciso ter sempre em
mente que, eu repito, não se pode tratar um filme apenas pelo que ele acerta ou
erra, pois o acerto e o erro, na arte, sempre podem ser modificados;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">- Leitura: seja sobre cinema, ou outras artes, ou qualquer
área de conhecimento, um crítico é, antes de tudo, um leitor do mundo. Gosto
muito do conselho que o cineasta alemão Werner Herzog deu a um grupo de
universitários: “leiam, leiam, leiam, leiam, leiam...” É a chave de uma boa
reflexão, de um bom argumento, sempre;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">- Seletividade: é preciso ver ‘de tudo, um pouco’, por isso,
um crítico não pode ver apenas o que gosta e, muito menos, pensar que apenas
aquilo que gosta é a boa arte. Minha lista de filmes que acho ‘chatos’ ou
cansativos, mas que reconheço como relevantes e geniais é bem grande... Para
isso, é preciso ver o máximo de trabalhos nos mais distintos estilos, gêneros,
períodos e nacionalidades. E, como já se produziu muito mais do que uma vida
pode ver, é preciso saber filtrar e selecionar com equilíbrio;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">- Opinião: ainda que eu defenda a crítica como algo além do
mero julgamento de valor, acredito, sim, que um crítico precisa ter consciência
de suas opiniões e gostos pessoais, e não ter vergonha de defendê-los (sempre
respeitando as opiniões alheias), por mais que estejam na contramão do que
parece um consenso;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">- Sensibilidade: assim como a crítica não pode se basear em
fórmulas, ela não pode tratar o cinema como fórmula, como mero aparato ou
linguagem técnica. Valorizo muito um crítico que consiga fazer a sua leitura do
filme como um prosseguimento da própria experiência que foi ‘ver o filme’,
prolongando as paixões, fazendo-me entender os motivos que o levaram a amar ou odiar,
ou ficar indiferente a uma sessão. Antes de pensar um filme, um crítico deve
senti-lo, relacionar-se com ele e encontrar, nessa troca, os caminhos de um bom
raciocínio, a sua compreensão do filme e de quem, ele próprio, é.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><o:p> </o:p></span><span style="background-color: white; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><u><span style="background: white; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Por que é importante conhecer
a Crítica Cinematográfica nos dias atuais?<o:p></o:p></span></u></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Porque
ela também fala sobre esses dias atuais. Até mesmo críticas antigas, de filmes
antigos, podem nos iluminar questões da contemporaneidade e ajudar no
entendimento do cinema e do mundo que se fazem, hoje. Mas eu ressalto: por isso
é tão importante não confundirmos crítica com divulgação cultural. Um
comentário da imprensa que apresente a sinopse de um filme, que fale sobre sua
bilheteria, sobre seus prêmios ou, o pior de tudo, que lhe dê uma nota, ou sei
lá quantas ‘estrelinhas’, não passa de um texto que se esgota no final de
semana seguinte. Preciso deixar bem claro: isto não é crítica. A crítica que
nos importa, seja nos dias atuais, seja no passado ou no futuro, é aquela que
ultrapassa o seu próprio tempo, como os filmes, que se torna um registro de seu
tempo, mas o expande a outros níveis, onde as fronteiras e calendários se
diluem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Finalmente,
é importante conhecer a crítica para que o exercício de ‘ver um filme’, e aqui
eu retomo minha citação do editorial, “não se encerre ao fim de uma projeção,
ao término de um <i>download</i>”, mas para
que os filmes continuem dentro de nós, inquietando, provocando nossa razão,
deslocando continuamente quem nós somos.<o:p></o:p></span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-80334655478982339402014-09-02T08:15:00.004-07:002014-09-02T08:15:48.717-07:00A Herança de Uma Linguagem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1j-dY8-NW2BNhGXXU9mhFkTnQ2aW_EEfbPFJ7yKNq8ioMWSM3y1KAuAEY3aH4WXeBJGmrOXu89KxU3NXxoXJS8jHo3OrLBlx5e72QZrJuUllIftdDuX_6RI1u_kAQ9YZlh9aE1SeKw6ue/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h10m55s108.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1j-dY8-NW2BNhGXXU9mhFkTnQ2aW_EEfbPFJ7yKNq8ioMWSM3y1KAuAEY3aH4WXeBJGmrOXu89KxU3NXxoXJS8jHo3OrLBlx5e72QZrJuUllIftdDuX_6RI1u_kAQ9YZlh9aE1SeKw6ue/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h10m55s108.jpg" height="464" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6CIIFuzf1WSOhuJwzeSaOZlpM99G4V7_dtXTwHi1-vnWtlI8kYugvMXah3J2HDxuiqe7wETGjUYP-KFioHIfepKy4yROhx5FtaP6eumVKlRaDNPFjj1EgiOzAqWvxT7_Ge4srtTo3HWlM/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h11m35s237.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6CIIFuzf1WSOhuJwzeSaOZlpM99G4V7_dtXTwHi1-vnWtlI8kYugvMXah3J2HDxuiqe7wETGjUYP-KFioHIfepKy4yROhx5FtaP6eumVKlRaDNPFjj1EgiOzAqWvxT7_Ge4srtTo3HWlM/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h11m35s237.jpg" height="464" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8T5mJ7wOuL51Nlyn4wqWKsViqrpeiOPJnPYr6JJVDu4Niwo3t8lA4JREQ3xRuPl88kBp5a7PggWqqtYu89i2sXy-vSA4pSZm9V2iaGim9LQJz6Xh7GYbjBdy3FlEY0ywbdjmV71Z0EEPm/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h11m44s75.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi8T5mJ7wOuL51Nlyn4wqWKsViqrpeiOPJnPYr6JJVDu4Niwo3t8lA4JREQ3xRuPl88kBp5a7PggWqqtYu89i2sXy-vSA4pSZm9V2iaGim9LQJz6Xh7GYbjBdy3FlEY0ywbdjmV71Z0EEPm/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h11m44s75.jpg" height="464" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtYLa9kQobfYjUNM55qyUk696Kp5tWQ1sBxHYH8inYNcKDyjDpPNr6PtqQG2ejN994Pfb-BEPAzMF5IftUedVGzfqupLSR_qmaTUvxEwKPyOg6WMKGC5Hf0sq4fvHLu8u4ulPMZho1OS71/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h11m57s132.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtYLa9kQobfYjUNM55qyUk696Kp5tWQ1sBxHYH8inYNcKDyjDpPNr6PtqQG2ejN994Pfb-BEPAzMF5IftUedVGzfqupLSR_qmaTUvxEwKPyOg6WMKGC5Hf0sq4fvHLu8u4ulPMZho1OS71/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h11m57s132.jpg" height="464" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrUfaG-1WCmbRU7LjoERLaDq7ZR6HPf77y2ohrQBoJPPNGqTYqNFy-UOjUowJK5OApI_lAqq5whGySniv7owLFOuCRRGkPdfnIZIow8csy1wF_eQ_x0PcWLeNe02wFg5Hv4QRfuXdvtQe2/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h12m02s2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrUfaG-1WCmbRU7LjoERLaDq7ZR6HPf77y2ohrQBoJPPNGqTYqNFy-UOjUowJK5OApI_lAqq5whGySniv7owLFOuCRRGkPdfnIZIow8csy1wF_eQ_x0PcWLeNe02wFg5Hv4QRfuXdvtQe2/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h12m02s2.jpg" height="464" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgszz5RNbuyG76eyEWBDRdD4IxOKtUZAPxxp3iOsvm6eRYy4K7ptt6cWIVSKf4L41InepNrwEFaSZ-vgtbq9_G0K7dwUpXEqTI4T_tlma3U-qB3wTXVAFHHLDOp2v43V-_3Ugkw0Xrws6aK/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h12m06s40.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgszz5RNbuyG76eyEWBDRdD4IxOKtUZAPxxp3iOsvm6eRYy4K7ptt6cWIVSKf4L41InepNrwEFaSZ-vgtbq9_G0K7dwUpXEqTI4T_tlma3U-qB3wTXVAFHHLDOp2v43V-_3Ugkw0Xrws6aK/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h12m06s40.jpg" height="464" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqSYGOIksA5LZkUqeoWY-FPh8qtAPNfBuL-W-7UteTiqUYwJNOTjDZPh6O0m-Bk-cYZ5bB7xwAKUg9pFyCGGSN0wdxZxe9TdgJGsnsBDw8kiXt-khuje3ghNEmTAPTxwivf6kRtQnfPawP/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h12m17s158.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqSYGOIksA5LZkUqeoWY-FPh8qtAPNfBuL-W-7UteTiqUYwJNOTjDZPh6O0m-Bk-cYZ5bB7xwAKUg9pFyCGGSN0wdxZxe9TdgJGsnsBDw8kiXt-khuje3ghNEmTAPTxwivf6kRtQnfPawP/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h12m17s158.jpg" height="464" width="640" /></a></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ9dKoRi4F5qvSsq-JvfitRiXBfKl4Y0Zkc0Pk59MZXWka-YyvPDRUT2GKw1lH00niBe20UBz9OCwYtnxn8nrTVc5GW_W-JWZOq7X3AOQXh5Zhj6IUl6hSHii_63Wuf7sEDRBsGybJT7zI/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h12m30s27.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ9dKoRi4F5qvSsq-JvfitRiXBfKl4Y0Zkc0Pk59MZXWka-YyvPDRUT2GKw1lH00niBe20UBz9OCwYtnxn8nrTVc5GW_W-JWZOq7X3AOQXh5Zhj6IUl6hSHii_63Wuf7sEDRBsGybJT7zI/s1600/vlcsnap-2014-09-02-12h12m30s27.jpg" height="464" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Paisagem na Neblina, Theo Angelopoulos, 1988.</td></tr>
</tbody></table>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-42975648532144226542014-09-02T08:06:00.001-07:002014-09-02T08:06:59.539-07:00(Não) Muito Tempo em Silêncio<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><i>* Prefácio escrito para o livro <b>Paisagens da Janela</b>, de Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti (LP-Books, 2014), lançado no último dia 23 de Agosto, na Bienal Internacional de São Paulo.</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">A
enorme quantidade de considerações que poderiam aqui ser traçadas, somente a
partir do título definido para este livro, sinaliza o incontável repertório de
significados utilizado por Inaldo Tenório de Moura Cavalcanti junto ao tratamento
de suas palavras. O conceito da ‘paisagem’ para a Arte e a própria noção desta
como ‘janela’ da expressão humana, concentra muito do que a presente compilação
de 24 contos realiza em sua unidade, na maneira como cada texto conduz a outro
e se deixa guiar por ele, como se o anterior e o próximo fossem inseparáveis e
coexistissem numa mesma dimensão do imaginário. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Talvez pela maturação de Inaldo com
a prosa — entre o anterior e o presente livro de contos, veio à luz um romance,
</span><i style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">‘O Colecionador de Cavalos’</i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"> (2013) —
os breves textos aqui reunidos facilmente poderiam ser tratados como um novo
romance, uma ambição do autor que não se contenta com o clímax, elemento
narrativo pouco encontrado por estas páginas. A predominância da primeira
pessoa e a constante elaboração do monólogo interior dá a amarra destas
paisagens mentais, obsessivamente talhadas pela sobrevivente letra de Inaldo. E
se mais uma vez atrevo-me nesta associação (da escrita pela morte e para a
vida) é porque sinto em não ter guardado uma de minhas frases no prefácio
passado para este momento, pelo que ouso a cópia: “e por isso a morte não lhe
vem [para a literatura de Inaldo] como em tempo futuro, como em medo, mas
gloriosa ressurge como coisa que passou e venceu, que de certa forma ficou,
pedindo agora lugar para fazer valer a dor.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Diversos são os espelhamentos e
desdobramentos deste livro para com o <i>‘Meu
Pai e Outros Contos’</i>, muitos mais do que a repetição deste que novamente vos
prefacia a publicação (pelo que de novo sou muito grato), sendo a potência do
‘lidar com a morte’, o que talvez mais sobressaia no conjunto da obra, no
aprimoramento das formas. É notável a sucessão de ‘consciências do fim’ que
atravessam o livro, seja na reflexão de uma morte que se escolhe, como nos
contos <i>‘Olhos de Suicida’, ‘Inquieto
Silêncio’, ‘O dia em que não morri’ </i>e<i>
‘A Passagem’; </i>seja em textos que tematizam o esfriamento do desejo e do
pathos, como ‘<i>Cenário’, ‘O livro’ </i>e<i> ‘Decote em V’; </i>seja na dolorosa
confrontação da fé, de uma crença que também conhece o luto, como no conto <i>‘Santos e Anjos’</i>, um dos lampejos mais
corajosos aqui guardados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">É no conto que dá título ao livro,
que lemos: “Meu olhar mata a beleza... sempre se tem chance de morrer, todos os
momentos, mesmo sem motivo.” E daí sabemos a confirmação de uma linguagem que
resiste, incondicionalmente, ao próprio ato de se escrever. As vozes de Inaldo
parecem sempre cientes de sua posição, por se quererem ouvidas, mesmo que elas
próprias não consigam se escutar direito. São inquietações, perturbações de
olhares que não se cansam das mesmas coisas, mas nelas encontram a motivação de
uma existência. Pois, a voz que no conto <i>‘Nada
Será Como Antes’</i>, pergunta: “Por que todas as coisas parecem se repetir?”,
é de alguma forma respondida pelo protagonista de outro conto, <i>‘O Livro’</i>, que descobre a necessidade de
estar “sempre vendo como se fora a primeira vez”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Ainda que Inaldo dialogue com
diversos nomes de sua cabeceira, como Kafka, Kundera, Donoso, Nietzsche e
Camus, trazendo suas presenças para o entrelaçamento do texto que agora se faz,
ele não se deixa soterrar pela proximidade dos cânones, pois assume esta
necessidade do olhar virginal, percepção infante das coisas, como uma
prerrogativa intransponível de sua criação. É preciso ver e sentir o mundo com
a surpresa de uma primeiridade, com o espanto dos céticos ou dos que
simplesmente não sabem das coisas, mas as descobrem enquanto vivem. E que, por
isto, vivem. Ao contrário da voz que
abre a primeira linha do novo primeiro conto, Inaldo não aguenta estar muito
tempo em silêncio, não é ele quem tem medo das palavras. E se exorciza pelo
avesso desta consciência, na voz suicida do texto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Como</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;"> revela em outro momento, no conto </span><i style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;">‘A Passagem’</i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;">: “Às vezes paro, querendo
que o tempo também parasse, o tempo de todos, o tempo completo; não só o meu.” Inaldo
nos oferta mais uma de suas dores, pois vem disto a alegria: de saber-se
impotente, mas vivo, nem que seja para ludibriar o tempo que resta. Eis o
convite da leitura que segue, em que o tempo de nós todos seja por completo
suspenso, neutralizado, para que assim reencontremos o que possa ter se
perdido, que assim nos lembremos de voltar ao prazer de uma descompromissada
janela.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-er7aLybjsbWcUjcol1KWLAw5sbJcMrxt2lIvILI3Zrm3AFXKMqmIyF6tgEVmU6F83-MqVggz-Lt8vuepxcqvc3jMAr-sxzFqIPyslucAOVX2oyfruA_BsIlRBS-0K5UgTWu3JBciHrEj/s1600/Sem+t%C3%ADtulo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-er7aLybjsbWcUjcol1KWLAw5sbJcMrxt2lIvILI3Zrm3AFXKMqmIyF6tgEVmU6F83-MqVggz-Lt8vuepxcqvc3jMAr-sxzFqIPyslucAOVX2oyfruA_BsIlRBS-0K5UgTWu3JBciHrEj/s1600/Sem+t%C3%ADtulo.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: left;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;"><br /></span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-16383755561519055702014-08-19T20:08:00.002-07:002014-09-02T10:09:28.989-07:0050 anos de G.H.<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Em
homenagem aos 50 anos de publicação de <i>A Paixão Segundo G.H</i>., a matéria de capa
do Suplemento Pernambuco, este mês, foi dedicada ao registro de leituras muito
particulares ao livro. A jornalista Julya Vasconcelos assinou a matéria <a href="http://www.suplementopernambuco.com.br/index.php/component/content/article/12-capa/1223-todo-cuidado-com-os-sintomas-da-paixao.html">“TodoCuidado com Os Sintomas da Paixão” (link)</a>, reunindo comentários de diversos
leitores e estudiosos de Clarice. Na oportunidade, também tive a honra de ser
ouvido por Julya e guardo com carinho a entrevista que respondi e que também me
ajudou a refletir um pouco mais de minha própria jornada com a escritora e sua
obra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">1 – Primeiramente, eu queria entender um pouco da tua pesquisa a
respeito de G.H, porque infelizmente não tive tempo de ler seus artigos e tese
(está disponível on line?). Podes explicá-la, em linhas gerais, a sua visão
sobre o livro? </span></b><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Minha
tese (ainda não está disponível, defendi há 04 meses) dedicou uma leitura
teopoética ao romance. Trata-se de uma teoria que une Teologia e Literatura
para interpretar obras que tocam em conceitos de ordem sagrada/religiosa. Não
tenho dúvida de que é uma chave essencial para o texto de Clarice que, desde o
título, evoca o imaginário bíblico, no símbolo da Paixão de Cristo.</span><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Minha
pesquisa, ou seja, minha visão sobre o livro, focou a noção de Desamparo
sofrido pela protagonista, que repete constantemente este sentimento à luz do
desamparo cristão (<i>lama sabactani</i>); esforcei-me por refletir as
consequências deste intertexto, tão acima do tempo histórico, para entender
melhor a situação humana de um século (XX) que é totalmente marcado pelo
mal-estar, pelo desamparo, ao menos desde que a consciência psicanalítica
esclareceu ainda mais as nossas limitações. Mas não posso restringir ‘minha
visão’ sobre o livro dentro de apenas uma perspectiva. Por exemplo, estou agora
mesmo envolvido em outra pesquisa a respeito de uma inquietação diversa do
livro, mais ligada a critérios narrativos de espaço e tempo. A grandeza da obra
está, justamente, em mediar todos os seus anseios no cerne da linguagem, nos
problemas do texto, da palavra. Isto é Literatura, isto é o inesgotável.</span><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">2 - Tens alguma sugestão do que significam as
iniciais da personagem?</span></b></span><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Não. Nem
penso que deva ter. Clarice não foi escritora de meias palavras, ou de
joguinhos semânticos/simbólicos. Já li inúmeras interpretações destas iniciais,
das mais sérias às ridículas, e creio que todas ‘perderam tempo’ lidando com
uma coisa que é muita clara e bem resolvida pela autora: uma palavra é uma
palavra, uma letra é uma letra, mais do que isso fica com a imaginação de cada
um e, tenho certeza, Clarice não daria a mínima para especulações que fossem
além.</span><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">3 - O que
é a paixão, segundo G.H?</span></b><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">É o que
não se pode responder, além do livro.</span><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">4 - Para
você, o fato de ter sido publicado em 1964 imprime alguma força política ao
livro? Alguns pesquisadores enxergam uma ideia de conflito de classes ou até
mesmo de desestabilização da identidade de G.H. como algo revolucionário, como
prática de uma liberdade, etc.</span></b><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">É
impossível que a literatura não espelhe o seu tempo, seu contexto histórico.
Para mim, G.H. é um dos marcos definitivos da resistência política nas letras
brasileiras. Lourival Holanda, professor e amigo, falou certa vez de escritores
que criam a pátria em seu imaginário e linguagem; obviamente, ele destacou
Clarice, pois o dilaceramento de suas letras é a causa primeira do exílio
interior que sofrem seus personagens. Nela, a linguagem é o único espaço, o
chão que resta, e não por acaso G.H. ser reconhecido como um ponto culminante
de sua carreira. Como disse há pouco, é um livro sobre o Desamparo, em todas as
suas formas e consequências, logo, também um livro sobre o desamparo político e
social do brasileiro, narrado por uma personagem carioca que já nem pode se
entender ou explicar dentro de um parâmetro geográfico, estabelecer fronteiras.
No final das contas, um livro sobre a linguagem e sobre o silêncio, sobre o
falar e o calar. Acho que nada poderia estar mais dentro do ‘espírito de 64’ do
que isto.</span><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">5 - Eu
estou perguntando, mesmo para os estudiosos da obra, como foi o primeiro
contato com o livro, de que forma foram tocados por ele, que paixões foram
despertadas, que sintomas observados. José Castello, por exemplo, disse ter
ficado doente durante a leitura, e que o médico disse que "era apenas uma
paixonite". Você poderia falar um pouco como chegou a Clarice, ao livro, e
como foi afetado, pessoalmente, por ele?</span></b><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Na
verdade, meu primeiro amor com Clarice está em “Água Viva”. Nenhum outro de
seus livros, e quase nada em toda a literatura, me toca como ele, diz tanto
sobre mim. Foi ele meu primeiro alvo de pesquisa, no mestrado. Mas logo
precisei deixá-lo de lado, num sentido científico, porque, sendo um livro tão a
respeito de mim mesmo, senti que já estava ‘me expondo’ demais, rsrsrs</span><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Creio que
G.H. se tornou, desde então, minha principal fonte de estudos porque, na
verdade, já cheguei a ele com olhos de pesquisador. Foi um livro que ‘demorei’
para ler (por mais que a literatura nunca se atrase), talvez por prever um
universo maior, mais complexo. Acredito que nunca fiz uma leitura
‘impressionista’ dele. Por um lado, isso desloca minha relação afetiva (há quem
diga que é um dos livros de que falo sem a paixão habitual, por causa deste
distanciamento), mas por outro, isso me deixa completamente aprisionado ao
livro. Já se vão 06 anos estudando e tudo indica que não terminarei tão cedo.
Bom, Clarice nunca termina...</span><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">6 - Queria saber o porquê de GH despertar tantas leituras distintas,
tantas paixões. Lembro de uma entrevista de (se me lembro bem) uma pesquisadora
canadense, que dizia que para ler Clarice ela havia desenvolvido um
"método telepático". Pensei também na força do leitor, que segura a
mão de G.H no seu percurso. Enfim, essa me pareceu uma questão central pra
matéria: o que há nesse livro que move tanta paixão?</span></b><span style="font-family: "Trebuchet MS","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 13.85pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<span style="background-color: white; font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 13.85pt;">Minha resposta pode cair no óbvio, mas não tenho outra: isto acontece
porque G.H. é Literatura. Simples assim. Infinito assim. A literatura se
consuma quando apaixona, quando nos deixa sem saída, quando nos arranca do chão
justamente para fazer sentir que o chão existe. A imagem constante da mão, no
livro, também é uma das que me comove mais intensamente, talvez porque veja
ligações com o Sagrado nela, uma espécie de mão divina, de mão que escreve o
texto e a vida, mas que também pode se soltar, que pode apagar o que escreveu.
É o limite entre a segurança e o abandono, isto que não permite a ninguém uma
‘leitura ilesa’, que faz todos nós sairmos machucados do livro, sabendo que
somente num retorno ao mesmo poderemos encontrar cura.</span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-60088934137102915862014-08-19T19:52:00.001-07:002014-08-19T19:53:52.864-07:00Uma Luz Para Derek<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW-V0NgRO7o30c4Rc3QMR68YrK9SZvH16sMyDDTdFeAaY6a_28NrfedstlkHcUA4pCCNMlrvr0ndKSl_nNETgzlwQPWJmwlYhdPuiyF5uArwmBl8Ml3-24YOt5XtqobtB1kJTp42uh0rrY/s1600/Art+Of+Mirrors.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW-V0NgRO7o30c4Rc3QMR68YrK9SZvH16sMyDDTdFeAaY6a_28NrfedstlkHcUA4pCCNMlrvr0ndKSl_nNETgzlwQPWJmwlYhdPuiyF5uArwmBl8Ml3-24YOt5XtqobtB1kJTp42uh0rrY/s1600/Art+Of+Mirrors.jpg" height="212" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Art of Mirrors, Derek Jarman, 1973.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Dos
primeiros curtas em super 8 ao testamento azulado, fica muito claro que o
cinema de Derek Jarman é uma questão de luz (basicamente, uma questão de Lumière),
uma reflexão sobre a intensidade devida à luz para a composição ou a diluição
completa da imagem figurativa. Toda imagem lhe surge como atravessada pelo
registro afetivo do tempo que a permitiu se guardar, num reflexo imediato ao da
pequena flor que o próprio cineasta aparece guardando dentro de um livro (ou
seja, da própria memória ou historicidade), no apoteótico </span><i style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">The Last of England</i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">
(1988), filme máximo de uma vida. Revisitar a integridade de sua carreira (na
oportuna <a href="http://www.mostraderekjarman.com.br/">Mostra promovida pela Caixa Cultural - link</a>) é também recobrar algum
grau mais aprofundado de crença na postura criativa, pois Jarman não explorava
a linguagem apenas para testar seus limites (não, ele não era Greenaway), mas
para descobrir até que ponto cabia nessa linguagem os traços mais íntimos de
sua identidade, de seus segredos, sua razão de ser. Por um cinema que pulse a
declarada obsessão de estar vivo, mesmo diante da morte, que não se esquive das
limitações de produção, mas delas extraia a força do inesquecível, por um
cinema que seja luz, por uma luz que seja tempo, eis a urgência de se voltar a Derek,
sempre.</span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7cl2ybCqYNe-fcxPFjP_k2IXwY32Au7XmaSdsuSZGigRtDBKKe692aVG9C6hC6K8WydwBdSwt4M6EWJ5424JnHGGnLghWvmQzWnPcXlGxttPIZEnnf6uMUldqSGVGCl7KdQSVOzcvLmrS/s1600/vlcsnap-2014-08-07-12h58m33s137.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7cl2ybCqYNe-fcxPFjP_k2IXwY32Au7XmaSdsuSZGigRtDBKKe692aVG9C6hC6K8WydwBdSwt4M6EWJ5424JnHGGnLghWvmQzWnPcXlGxttPIZEnnf6uMUldqSGVGCl7KdQSVOzcvLmrS/s1600/vlcsnap-2014-08-07-12h58m33s137.jpg" height="360" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Blue, Derek Jarman, 1993.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-78640603703005650782014-08-04T12:14:00.001-07:002014-08-04T12:17:57.257-07:00O Despentear das Letras<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">A
marca mais interessante dos personagens que iluminam o breve conto ‘A Terra’, é
bastante significativa: <i>“Não penteavam os
cabelos. Às vezes não eram para ser penteados, pois eles haviam de ser
coerentes e pensantes, com pensamentos arredios e dominadores.” </i>Apesar de não
retornarem nos demais textos do livro <i>‘Grãos’ </i>(2007),
obra de um intimismo singular na carreira de Patricia Tenório, são estes
personagens e seu gesto tão expressivo que demarcam a atmosfera dominante do
livro. Se a literatura de Patricia, neste caso, precisa de um adjetivo que lhe
abarque, não poderia ser outro: trata-se de uma literatura despenteada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;">Não
se busca a coerência, aqui, ou qualquer nota de verdade, como atestam os últimos
versos do poema ‘Nome’: <i>“Eu pergunto e não
respondes / Porque tu sabes, oh, meu querido / Tu sabes que não existe a
verdade.” </i>Patricia pergunta por anseios que não cabem na linearidade de gêneros
ou formas, desconectando seu projeto entre diversos tipos de possibilidades, variando
entre contos, poemas, registros de diário e esboços do que parecem obras
futuras (há pelo menos um princípio de diálogo, em ‘Consulado’, que sinaliza o
lampejo do gênio). Cuida de suas letras como num cafuné gostoso, de mãe pra
filho, que não se importa em deixar a criança desarrumada, se ela continua sua,
continua inteira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Na
orelha do livro, a explicação do título é precavida: </span><i style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">“Grãos’ não sugere, apenas, a força misteriosa das palavras, mas também
a possibilidade de germinar em nosso íntimo novos seres, assim como ocorre com
as sementes que, guardadas sob o signo da multiplicação, frutificam.” </i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">E não
há como fechar a contracapa sem perceber que alguns dos grãos realmente ficam, à
espera dos frutos, com a força dos detalhes que melhor pontuam a memória de um
leitor. Aliás, basta fechar o livro para notar que na própria capa, com arte de
Ítalo Didot, invade-nos uma destas forças que não cabem em descrições para
habitar uma lembrança. São apenas cores, sugestões, mas nelas eu enxergo os
cabelos...</span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHZIH2TVv7dMGZR1XRcrZ0EirZq4s6wsNx7j69szOq119OkfzSkFfA2pcpgNHANquazDBB0XhknhgM62XDxkAjAytRfUCHChQXPq_Ma6_HnacOnk6_vMB_HCdSNtrnATXhKthjAc6yVaBG/s1600/gr%C3%A3os.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHZIH2TVv7dMGZR1XRcrZ0EirZq4s6wsNx7j69szOq119OkfzSkFfA2pcpgNHANquazDBB0XhknhgM62XDxkAjAytRfUCHChQXPq_Ma6_HnacOnk6_vMB_HCdSNtrnATXhKthjAc6yVaBG/s1600/gr%C3%A3os.jpg" height="320" width="209" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7512351316105134320.post-57452554460908200652014-08-04T11:39:00.001-07:002014-08-04T11:39:12.324-07:00No Batom, O Tempo [1]<div>
Para registro, as mulheres do cinema e seus batons me foram eleitos como um dos detalhes mais obsessivamente poéticos de minha cinefilia, desde Julho de 2011, no artigo escrito para o Filmologia: <a href="http://www.filmologia.com.br/?page_id=3494">O DRAMA MAQUIADO (link)</a>. Nesse meio tempo, mais dois textos partiram da mesma premissa, para os filmes <a href="http://www.filmologia.com.br/?page_id=5318">Jovens Adultos (2011)</a> e <a href="http://www.filmologia.com.br/?page_id=7482">Um Alguém Apaixonado (2012)</a>. Por aqui, prossigo em minha coleção de cores e sonhos, de lábios e amores, pois reunir o tempo é preciso.</div>
<br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMcCL65n3ClYbeJg9OslgmIZ56cI9yGJb7B_X1Kx3nmmmH7okanp2QZKs-TTZAUnjEr5pQmueaNUEYuj_K8FN2pkL7zmA2vzqZcr64G0T_EuM8j3Rutc6tf-EXO3qTTfz7M2oTrSiCeyuD/s1600/vlcsnap-2014-07-30-19h48m48s171.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMcCL65n3ClYbeJg9OslgmIZ56cI9yGJb7B_X1Kx3nmmmH7okanp2QZKs-TTZAUnjEr5pQmueaNUEYuj_K8FN2pkL7zmA2vzqZcr64G0T_EuM8j3Rutc6tf-EXO3qTTfz7M2oTrSiCeyuD/s1600/vlcsnap-2014-07-30-19h48m48s171.jpg" height="388" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A Dupla Vida de Véronique, Krzysztof Kieslowski, 1991.</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrnJKo9RfFsQmx6jUHSTU-Scs3zh3iHjkBTxGQD-uv9nG6QXyupe4ffLwtZ1OWoOqH-9pzryqdv5STdjMEIiXDY08R1NGjDIDVVQu26B4VNWgCtY1a5LRQfzB7my1PcBvd2XOR5nHoU-hh/s1600/femmes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrnJKo9RfFsQmx6jUHSTU-Scs3zh3iHjkBTxGQD-uv9nG6QXyupe4ffLwtZ1OWoOqH-9pzryqdv5STdjMEIiXDY08R1NGjDIDVVQu26B4VNWgCtY1a5LRQfzB7my1PcBvd2XOR5nHoU-hh/s1600/femmes.jpg" height="476" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Femmes Femmes, Paul Vecchiali, 1974.</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKYWx-NdSDLTu9L1TZJXQR0vOF7tkeUOVtjxay5RlmzkGzYltrMvtHfwlU4yFINqgZpk8hmG409q3dwq5ICg40ixvG51yZZdjx1QDItjn9Rju6tp-Pd5tqjVwPNcO357sgL6svhEvvdfxb/s1600/vlcsnap-2014-06-19-00h17m35s77.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKYWx-NdSDLTu9L1TZJXQR0vOF7tkeUOVtjxay5RlmzkGzYltrMvtHfwlU4yFINqgZpk8hmG409q3dwq5ICg40ixvG51yZZdjx1QDItjn9Rju6tp-Pd5tqjVwPNcO357sgL6svhEvvdfxb/s1600/vlcsnap-2014-06-19-00h17m35s77.jpg" height="344" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Saló ou Os 120 Dias de Sodoma, Pier Paolo Pasolini, 1975.</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9vNZcqHqhTjZifIwSXejc2CIl1LGc5_3F6eJnmYv2G6Ae4Fki8OZKT2-M-QhL_xFZsJF5sxlvdWIvgSN2v3Q-t1EMF4ElRooq6s18w66V4JkbZbkOJtBI3Jok9umQDVD2m3bVfrjjZgZh/s1600/Bergman.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9vNZcqHqhTjZifIwSXejc2CIl1LGc5_3F6eJnmYv2G6Ae4Fki8OZKT2-M-QhL_xFZsJF5sxlvdWIvgSN2v3Q-t1EMF4ElRooq6s18w66V4JkbZbkOJtBI3Jok9umQDVD2m3bVfrjjZgZh/s1600/Bergman.jpg" height="384" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Mais Uma Vez Adeus, Anatole Litvak, 1961.</td></tr>
</tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc9EkCtU2vpCf9WuEs0ca6WP7PsD9_kj3w9UV9DgzS8KL-8UozJraZfJdJvo_-XVyGi2QVBr4fm_jgXrcTXHiJdX5PAcdkvJm3WrmUKIGaTgOclFK2bhNWhC5lz-oIGuCIIZNHLdwk69sd/s1600/09.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgc9EkCtU2vpCf9WuEs0ca6WP7PsD9_kj3w9UV9DgzS8KL-8UozJraZfJdJvo_-XVyGi2QVBr4fm_jgXrcTXHiJdX5PAcdkvJm3WrmUKIGaTgOclFK2bhNWhC5lz-oIGuCIIZNHLdwk69sd/s1600/09.jpg" height="348" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Reencarnação, Jonathan Glazer, 2004.</td></tr>
</tbody></table>
nandohttp://www.blogger.com/profile/10355736352169654479noreply@blogger.com0